ENTREVISTAS
The Hospitals
O anal dos hospitais
· 05 Fev 2007 · 08:00 ·
Não é, de facto, justo que alguma etiqueta ou rectidão política impeça os gases flatulentos de serem recebidos como perfume por cultivadores de preferências mais atípicas. Tal como não parece justo que alguém, a pulmões cheios (de perfume ou não), estigmatize os Hospitals com as chagas que perseguem os combos rock mais infamemente ruidosos, só porque foi essa a estrutura que internacionalizou o nome da Load e dos seus duos demolidores. Para mais, quando a formação da ameaça oriunda de São Francisco já há muito ascendeu de dois para quatro membros e sabendo-se que a manutenção lúcida de uma mesma sintonia nunca foi o forte de Adam Stonehouse e Rod Meyer, que volta a integrar a banda após um período de afastamento.

Enquanto não surge um terceiro disco, I’ve Visited the Island of Jocks and Jazz continua a surtir efeitos explosivos quando violentamente conjugado com o factor surpresa. Que o diga quem se viu enclausurado no asilo em que os Hospitals transformaram a Zé dos Bois aquando de uma primeira memorável passagem por cá. Os restantes podem-se redimir na próxima sexta-feira (9 de Fevereiro) e sábado (10), com concertos na Zé dos Bois, em Lisboa, e Censura Prévia, em Braga (cidade familiar a estes odores), respectivamente. Concertos esses que o mentor Adam Stonehouse promete intensos. O Bodyspace encontrou-o algo adulterado em período de estágio cumprido numa Londres onde os freaks comemoram o Carnaval a cada sábado. Certezas, apenas duas: estabilidade é a doença. A imundice é a cura.
Como vai isso? Que tens feito ultimamente?

Vai tudo bem. Ultimamente tenho estado porreiro.

Que benefícios e prejuízos resultaram da expansão para quatro membros? Sentes que um terceiro álbum pode estar a ganhar forma?

A formação de quatro membros é a melhor que conheceram os Hospitals até hoje. O guitarrista original, Rod Meyers, encontra-se na banda novamente e o Chris Gunn é o segundo guitarrista. Esta é a primeira vez, desde a formação inicial de dois membros, que sinto existir realmente uma banda. Estamos a acabar um terceiro disco que ficará concluído em Março e será lançado no Verão ou, na melhor das hipóteses, em Maio.

Fala-me um pouco mais desse terceiro disco.

É provável que venha a ser lançado pela Siltbreeze. Será composto por músicas que gravámos, na sua maioria, com a formação de quatro membros em várias ocasiões passadas em várias caves. É o meu disco favorito até aqui.

Em que métodos de engenharia de som acreditas que te terás especializado durante estes últimos meses?

No que diz respeito a isso, sou eu que ocupo de toda a gravação deste próximo disco – levando isso a que lhe dispense o tempo que for necessário. Vou poder fazer um monte de coisas que queria já ter incluído no disco anterior. Porém, não dispunha de tempo ou banda para tal. Tenho explorado uma combinação de tapes com sons imponentes e uma mistura pesada.


Arriscaram mais algumas covers após aquelas que surgiram no doze polegadas Rich People (editado pela francesa Yakisakana)?

Iremos incluir uma cover no próximo disco. Gravámos algumas mais para esse doze polegadas. Gosto das covers que tocámos, mas essas gravações ocuparam-nos apenas um fim-de-semana e gostaria de ter escolhido outras músicas. Ainda assim, satisfazem-me. Gosto especialmente da “Happy Jack” (peculiar cover dos Who).


Sempre me questionei se mudarias a letra de “Problems” (passagem moribunda de I’ve Visited the Island of Jocks and Jazz) conforme a tua disposição actual de cada concerto...

Sim, altero constantemente a letra de “Problems”. Especialmente durante a última digressão em que estava a ficar completamente louco – dispunha de uma imensidão de problemas para me inspirarem a isso.

Fazes ideia do que tem feito ultimamente Chris Woodhouse (figura crucial do processo de gravação do segundo disco e incansável libero do underground norte-americano)? É difícil estar actualizado em relação às suas actividades...

O Chris Woodhouse deixou de tocar. Vive agora de um estranho modo profissional, mas parece mais feliz. Gostaria de afirmar que regressará, mas não me parece que assim seja. Ele é muito talentoso, mas se as gravações o incomodam, talvez seja melhor parar.


E em que ponto se encontram os Big Techno Werewolves (combinado absurdo a verificar e escutar na página http://www.myspace.com/bigtechnowerewolves)?

O líder dos Big Techno Werewolves, Eric Bauer, encontra-se em período de pausa por motivo das lesões sofridas após ter salvo duas famílias dos seus apartamentos quando esses se incendiaram. Ainda assim, ele está bem, assim como as fitas e todas as famílias que sobreviveram ao fogo. Posto isto, o álbum é capaz de ser por volta do fim do Verão, mas tenho a impressão de que a banda acabou.

No próximo dia 9 de Fevereiro quais serão as principais novidades em relação ao vosso último concerto na Zé dos Bois?

O concerto será diferente do último porque iremos tocar dez vezes melhor e destruir aquela merda toda. Lisboa é das minhas cidades favoritas. Garanto um bom espectáculo. Pago a todos uma cerveja e vamos curtir até eu ser escoltado para fora dali num carro da polícia.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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