ENTREVISTAS
Comets on Fire
Mundos em Colisão
· 09 Out 2006 · 08:00 ·
Num artigo na revista Mojo, Noel Harmonson afirmou que os membros dos Comets on Fire acreditam mais do que tudo no rock psicadélico como “a música mais transcendental”. Avatar é mais uma bomba que obedece a essa ideia. Estes Comets on Fire estão mais longe da crueza e sentimento de jam que caracterizavam os primeiros discos (Comets on Fire e Field Recordings from the Sun, registos fortemente lo-fi), e mais próximos das canções, por força da reinvenção. No entanto, os Comets on Fire continuam a destilar rock fodido com a mesma força dos primeiros tempos (ouvir "Dogwood Rust" e "The Swallow's Eye", do último). Com Avatar, o segundo disco na Sub Pop, os Comets on Fire conseguem um dos melhores discos do ano e agora vão estar em Portugal para dois concertos: o primeiro no próximo dia 13 de Outubro na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa; o segundo, no dia seguinte, no bar mais rock 'n' roll do Porto e arredores, o Porto Rio. Noel von Harmonson, o senhor do echoplex, em entrevista ao Bodyspace, aborda alguns temas como o novo disco, as mudanças dos Comets on Fire nos últimos tempos, a divisão pacífica no seio da banda em relação ao rumo a seguir e a vinda a Portugal.
Neste novo disco, Avatar, as coisas parecem ter acalmado um pouco; por vezes explora até novos territórios. Foi um passo consciente?

Sim, queríamos explorar novos territórios. Não queríamos de certeza fazer outro disco que soasse exactamente como o nosso anterior. Por isso os aspectos mais “calmos” do novo disco foi um local para onde ir.

Em Avatar, parece haver também uma evolução em termos de escrita de canções e de estrutura de canção. Foi um disco difícil de conceber?

Foi incrivelmente difícil de conceber! Houve tempos em que me perguntei se alguma vez sairíamos do estúdio vivos. É bem verdade que uma quantidade maior de pensamento foi para a escrita de canções desta vez mas eu não sou a pessoa certa para discutir este aspecto já que eu apenas tento destruir as canções com as minhas electrónicas.

No meio de todo esse processo, como é que o piano acabou por ser uma parte muito importante de Avatar?

O Utrillo tinha duas canções que andavam por aí, que ele trouxe para a banda. A outra (“Sour Smoke) foi algo que surgiu enquanto fazíamos uma jam no local de ensaio.

Os Comets on Fire sentem de certa forma saudades do sentimento constante de jam dos primeiros discos?

Eu sinto bastante. E acho que o Chasny também. Alguns dos outros dudes provavelmente gostam mais da nova fornada de temas. Mas lá está, eu acho que estamos apenas a explorar.


Sentem que com este novo disco os Comets on Fire abrem a porta a uma possível nova onda de ouvintes? Vêm Avatar como o vosso disco mais acessível até à data?


Sim, é a coisa mais acesível até agora. Também tenho a certeza que é muito mais audível para audiências mais alargadas. Quer dizer, eu acho que a minha mãe gosta mais deste disco… e o meu patrão.

Como é que se sentem a fazer parte do catálogo da Sub Pop?

Toda a gente na Sub Pop é realmente porreira. Não sei o quanto nos identificamos com o resto do catálogo da Sub Pop mas isso é outra questão. Somos amigos dos Mudhoney e somos super amigos dos Wolf Eyes e isso é suficientemente bom.

Entre Blue Cathedral e Avatar, os membros dos Comets on Fire desenvolveram muitos projectos a solo. Mantêm esses projectos longe do caminho quando estão a escrever coisas para os Comets on Fire ou permitem que essas experiências pessoais penetrem nas vossas composições?

É impossível manter essas coisas separadas. Muitas ideias que não são apropriadas para os Comets on Fire encontram vida nos projectos a solo das pessoas.

O vosso disco de estreia, Comets on Fire, lançado em 2001 na editora Alternative Tentacles, foi gravado num quatro pistas. Imagino que agora têm melhores condições de gravação. Sentem de alguma forma saudades desses primeiros tempos? Vês os Comets on Fire a regressarem a esse tipo de opções de gravação?

Nós ainda sentimos que estamos numa terra de fantasia sempre que estamos no estúdio… como se tivéssemos entrado ali às escondidas ou como se não devêssemos estar ali mais do que durante alguns minutos. Algumas bandas gravam discos em estúdio durante meses. Um ano inteiro até… nós tivemos uma semana seguida para as gravações iniciais do Avatar. Isso pareceu-nos tipo anos comparado com as condições em que trabalhamos antes. Em relação à gravação em quatro pistas… essa é a minha forma preferida de fazer as coisas. Fomos capazes de capturar tanta energia e adrenalina com gravações em cassetes (coisa que ainda fazemos muitas vezes durante os ensaios) mas esta energia pode ser tão bombástica e o vocalista torna-se preocupado que não se consiga entendes as letras, etc., etc.

Os MC5 e os Stooges, por exemplo, tiveram ou estão a ter digressões recentemente. Tiveste a oportunidade de os ver ao vivo nos últimos tempos? O que achas destes regressos?

Não os vi. Acho que preferimos manter as nossas noções sobre essas bandas em casa com os discos deles da era deles.

Foram recentemente confirmados para o próximo ATP no Natal, um festival ‘compilado’ pelo Thurston Moore. Como é que tudo aconteceu? Qual é o sentimento de se ser convidado para tocar no ATP?

O ATP significa sempre grandes momentos. Estamos honrados de fazer parte do do Thurston já que é provavelmente o cartaz mais excitante de bandas que eu poderia imaginar. Tocamos uma mão cheia de concertos com os Sonic Youth nos Estados Unidos nos últimos anos, eles são tipos muito porreiros.

Vão tocar em Portugal na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, e no barco/bar Porto Rio no Porto. O que é que esperam desses dois concertos?

Pura Beleza.

Vão tocar com os CAVEIRA em ambos os concertos. O que é que acham deles?

Ainda não os ouvi, essa é a banda do Pedro, certo? O Chasny conhece o Pedro.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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