DISCOS
Patrick Wolf
The Magic Position
· 21 Mar 2007 · 07:00 ·
Patrick Wolf
The Magic Position
2007
Loog / Universal


Sítios oficiais:
- Patrick Wolf
- Loog
- Universal
Patrick Wolf
The Magic Position
2007
Loog / Universal


Sítios oficiais:
- Patrick Wolf
- Loog
- Universal
Terceiro disco de Patrick Wolf é uma bomba de felicidade, é a sua forma de mandar pontapé na tristeza. Com sucesso.
Basta olhar para a capa deste The Magic Position para se perceber que este Patrick Wolf não é o mesmo que noutros tempos assinou Lycanthropy e Wind in the Wires. O homem descobriu a luz, fartou-se de andar à procura da melancolia e do desgosto, mandou uma patada decidida no negrume. Para essa decisão não foram alheios alguns acontecimentos na vida de Patrick Wolf como apaixonar-se e ter-se apercebido que tinha passado os últimos 4 ou 5 anos a escrever canções em tonalidade menor. Mesmo os cépticos do amor admitirão que as probabilidades de a primeira acontecer é bastante superior à segunda.

Mas voltando à capa, Patrick Wolf aparece vestido de forma curiosa: um misto de miúdo de seis anos e cowboy de rodeo, com aparente inocência, ao volante de um animal de carrossel. Isto pode querer dizer que Patrick Wolf é uma criança a querer domar uma fera ou um adulto a querer voltar para a excitação das atracções de feira, mas o que é certo é que o homem está feliz com a vida que tem. Se ainda não deu para perceber, em The Magic Position Patrick Wolf estabelece um corte com o passado, quer musicalmente, quer esteticamente. Felizmente as mudanças não representam um decréscimo de qualidade. Ao que parece Patrick Wolf é bastante consciente nas opções que toma.

“Overture” dá as boas-novas, as boas-vindas e conquista com a união de electrónica e cordas. Mas conquista especialmente pela atitude. Em “The Magic Position” Patrick Wolf não está sozinho no carrossel; tem a companhia de todo um jardim-de-infância que não só bate palmas como vê o inglês num mundo encantado e de estrondoso contentamento. Depois de uma quebra de tensão causada por excesso de alegria, em “Accident & Emergency” Patrick Wolf entra numa ambulância ao sinal de despedida das crianças que acaba por lhe ficar na cabeça. Instrumentos de sopro seguem-no dentro da ambulância. Quando chega à secção de urgências é-lhe detectada Popite, um excesso de sensibilidade pop no sangue. Fica obrigado a permanecer alguns dias no hospital.

Nessa noite Patrick Wolf sonha. Sonha com florestas em “Bluebells” e lida com a perda da forma possível. A sua capacidade de superação dá-lhe a melhor canção do disco. Os telefones tocam e desperta. É hora de tomar os comprimidos. No dia seguinte recebe a visita de Marianne Faithfull em “Magpie”; pianos e violinos reúnem-se para a ocasião. A partir daqui Patrick Wolf, já fora do hospital, doseia o contentamento. “Augustine” é sóbria: não é exultação nem taciturnidade, fica algures entre os dois. Piano, guitarra acústica e percussão simples chegam para fazer do refrão algo de memorável.

“Get Lost” é uma recaída, canção mandada para a frente e sem olhar para trás; sinal de regozijo sublinhado por teclados. “The Stars” é uma espécie de capricho, explosão controlada de beleza condimentada com pianos, batidas e cordas que quase se transforma em drum ‘n’ bass a certa altura. Este é o ponto de cozedura para Patrick Wolf. O ponto em que tudo se decide. Rapidamente. Já se decidiu. Depois do disco da rebeldia (Wind in the Wires), Patrick Wolf assina o disco da maturidade, por mais cliché que isto possa parecer. É preciso estar de bem com a vida para assinar um conjunto de canções assim. Do início ao fim este é um disco que diz “arrumem os lenços de papel que outrora absorveram lágrimas e venham para aqui onde bate o sol”.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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