DISCOS
31Knots
Talk Like Blood
· 31 Out 2006 · 08:00 ·
31Knots
Talk Like Blood
2005
Own Records / Polyvinyl / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Own Records
- Polyvinyl
- AnAnAnA
31Knots
Talk Like Blood
2005
Own Records / Polyvinyl / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Own Records
- Polyvinyl
- AnAnAnA
Frise-se de antemão a perspicácia dos 31Knots na selecção de brilhantes colaboradores-chave para a produção e engenharia dos seus discos. Ninguém sai perder ao associar-se criativamente aos Deerhoof, uma das mais desenvencilhadas instituições musicais no activo, e os efeitos milagrosos de tal aliança sentem-se transparentemente a uns 31Knots que, desde 2005, contam com a bateria de um Jay Pellicci que – precisamente e preciosamente - esteve presente, enquanto engenheiro de som, nas sessões que geraram os obrigatórios Reveille, Apple O’ e Milk Man. Deduz-se a partir daí que a mestria de Greg Saunier no âmbito da engenharia de som tenha facilitado uma iluminação mútua e podemos apenas antever os resultados fabulosos que podem estar reservados para um próximo disco de 31Knots, The Days and Nights of Everything Anywhere, que o próprio baterista dos Deerhoof misturou. Contudo, a hora reclama por um terceiro e imaginativamente farto Talk Like Blood, que, embora denuncie em demasiadas ocasiões a “pesca” de um single de potencial radiofónico, vale surpreendentemente por um produção de calibre superior e pelo volume positivamente absurdo de métodos invulgares aplicados à forma de um rock, cuja essência sanguínea é a única componente a resistir a todas as transformações.

E assim que a mutação exige sacrifícios, o primeiro valor a evaporar-se é a capacidade de contenção – a boémia que Brooklyn mantém sob moderada luz avermelhada passa a ser esventrada pela facção de Portland que a força a verter o sangue do título. Sobra sofisticação a rodos, que serve também de pau para toda a obra. Nomeadamente, quando intervém num inebriado reggae citadino – “Hearsay” – em que a subterrânea batalha rítmica dispõe do momento certo para colocar em evidência os seus executantes.

Esta soa a uma daquelas faixas que os Maroon 5 nunca se atreveriam a compor por força do perigo que constitui o seu final de guitarras em apoteose. Depois de, em escassos minutos, firmar os seus créditos catchy, Talk Like Blood dispõem de tempo mais que suficiente para ir a todas e obter resultados surpreendentes em cada uma dessas investidas: seja na apropriação lisonjeira do mais sincero EMO da Saddle Creek em “Chain Reaction” (que conhece picos vocais na escala total do disco), narcisicamente debruçado sobre o umbigo da sua própria elegância samplada logo no início do intermédio “Interlude” ou generosamente balanceado para um power-rock que aproveita de forma improvável o piano febril em “Proxy and Dominion”. Por essas e por outras, perdoa-se até a sede de fama que demonstra Talk Like Blood. A quantidade e eficaz qualidade da pólvora que armazena este terceiro álbum deixa a ideia de que será apenas uma questão de tempo até estes 31Knots desatarem a cumprir rodagens sucessivas nas frequências hertzianas por esse mundo fora.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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