DISCOS
Jazzanova
Belle Et Fou
· 13 Fev 2007 · 08:00 ·
Jazzanova
Belle Et Fou
2007
Sonar Kollektiv


Sítios oficiais:
- Jazzanova
- Sonar Kollektiv
Jazzanova
Belle Et Fou
2007
Sonar Kollektiv


Sítios oficiais:
- Jazzanova
- Sonar Kollektiv
Respondendo a um desafio, o colectivo alemão regressa aos originais tentando, com nove pequenos temas, definir uma nova sonoridade.
Do espectáculo Belle Et Fou pouco haverá para dizer senão que se trata de um evento cultural em Berlim da responsabilidade de Hans-Peter Wodarz e Arthur Castro - que desafiaram os Jazzanova a escrever a banda-sonora - que junta teatro e dança no mesmo palco. Agora do projecto alemão poucos poderão alegar desconhecimento ou ignorar o seu contributo para a música de à 10 anos para cá. Nascidos em plena ebulição pós-tecno e procurando recuperar o espírito libertino do jazz ou os sentimentos genuínos de uma soul classicista em busca da modernidade, o colectivo conta no seu curriculum com uma mão cheia de remisturas e originais que lhes valeram reconhecimento à escala planetária.

Nunca tiveram problemas de chamar a si o que era dos outros seja no escalão da imaginação recreativa ao apoderarem-se, com uma lucidez invulgar, dos originais alheios, transformando-os, brilhantemente descaracterizando-os e incorporando depois na sua música pequenas partículas sobreviventes da obra inicial ou simplesmente abraçarem convenientemente as suas influências musicais para depois incorporarem a agudeza de espírito dos mestres na sua própria matriz. Tudo tarefas difíceis que poucos conseguirão dominar com agilidade e sabedoria. Mas também o talento não foi distribuído pela humanidade de forma igual.

Remixes 1997-2000 foi, e ainda o é, um perfeito exemplo – antagónico dirão muitos – de como recriar é substancialmente diferente de remisturar. Certo é que granjearam o respeito de todos que tomaram por lição uma verdade, agora paradigmática, de que é possível imprimir uma marca de autor sobre matéria-prima de estranhos. Mas os Jazzanova provaram por varias vezes que nem só das remisturas fazem o seu sustento. Com uma carreira de 10 anos, e mais remisturas que peças próprias, os seis criativos berlinenses contam apenas com um álbum de originais na sua discografia. Também sempre confessaram que trabalhar a matéria particular era um desafio mais complexo do que a apropriação e transformação de ideias de outros. Talvez por isso mesmo In Between de 2002 seja até agora a única prova dada da sua capacidade de erguer um quadro próprio. Tudo o resto não passam de experiências pontuais. E Belle Et Fou é mais uma prova.

Belle Et Fou enquanto compilação de temas de fundo de catalogo não trás nada de novo senão o ecletismo das escolhas – recorda-se, entre outros, a bricolage de Forss em “Flickermood” ou o calor pop/soul de “Just A Lil Lovin” dos Outlines. Agora como antologia/banda-sonora de originais Jazzanova não deixará de ser pertinente referir que o que por aqui se ouve sabe a pouco. O ecletismo mantém-se tal como a produção imaculada e enquanto a programação vai sendo substituida por uma sonoridade cada vez mais orgânica, também o lado mais aventureiro vai se desvanecendo na obcessão dos gostos pessoais dos seus autores. Entre o divergir da componente mais jazz do projecto e a convergência para uma orientação soul blaxploitation intimista – “Rendez Vous” com um Capitol A possuído pelo espírito de Barry White –, um disco eloquentemente orquestrado – “Theme From Belle Et Fou (Bows)” – ou a incursão pela pop/folk melancólica – “The Sirens Call” –, tudo leva-nos a querer que os Jazzanova estão completamente disponíveis a uma abertura a novos léxicos e dispostos a correr riscos em busca de um novo mirante. Apenas o novo álbum confirmará as curtas incursões que aqui ouvimos e tomaremos por certas as mutações na estética sonora do colectivo. Até lá, este espectáculo terá de satisfazer.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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