DISCOS
Sufjan Stevens
Come On! Feel the Illinoise!
· 08 Out 2005 · 08:00 ·
Sufjan Stevens
Come On! Feel the Illinoise!
2005
Asthmatic Kitty


Sítios oficiais:
- Sufjan Stevens
- Asthmatic Kitty
Sufjan Stevens
Come On! Feel the Illinoise!
2005
Asthmatic Kitty


Sítios oficiais:
- Sufjan Stevens
- Asthmatic Kitty
Sufjan Stevens vem da folk, da tradição americana da arte de escrever canções. Mora e gravou Illinois em Brooklyn com os Illinoisemakers (em Michigan chamavam-se The Michigan Militia basicamente, ele em quase todos os instrumentos e os amigos nos coros e nas passagens mais difíceis de tocar nos instrumentos). Os 70 minutos e pouco do disco caracterizam-se por canções, algumas mais "enormes" do que outras (é a diferença entre o "muito bom" e o "excelente"), mas todas elas óptimas, e devaneios curtos de drones e outras brincadeiras que acabam por aborrecer depois de muitas audições. O nome de cada tema, de cada canção, é quase como um poema em si mesmo, como faziam, por exemplo, os portugueses Santa Maria Gasolina em Teu Ventre! Veja-se, por exemplo, logo a canção inicial, “Concerning the UFO Sightning near Highland, Illinois”, que começa com um piano sonhador e a descrição de um óvni, uma mediação sobre incarnação e estrelas, no falsete soberbo de Sufjan (uma das maravilhas do mundo). Assim, às vezes os nomes caem em absurdo, mas são sempre deliciosamente divertidos e hilariantes. Até no booklet que acompanha a edição em CD o sentido de humor de Sufjan transparece. Por exemplo, na lista dos músicos diz-se que Sufjan tocou as suas flautas de bisel tenor, soprano e sopranino, mas teve de pedir emprestada à Monique a alta. E, a seguir aos nomes das pessoas que tocam diferentes instrumentos, existem comentários como “Man, he’s good!” ou “Wow”.

Parte-se à descoberta de um estado, o segundo dos 50 (mas Sufjan, entretanto, já disse que nunca fará um disco para cada um dos estados, já que nunca escreveria sobre o Texas), a partir de um OVNI. Surge um coro de vozes numa “canção” (sem letra) com o maior título do disco: “The Black Hawk War”. Os nomes abreviados das canções aparecem em maiúsculas e as outras brincadeiras em minúsculas, nos próprios títulos das canções. Logo depois, “Come on! Feel the Illinoise!” traz-nos metais e uma canção brutal a 5/4 que mete toda a gente logo a dançar. Tem duas partes diferentes, como a sua “irmã” “The Tallest Man, the Broadest Shoulders”, quase no final do disco, esta última tendo palmas lúdicas que nos fazem lembrar como era bom acompanhar com palmas temas como “Raspberry Beret” do Prince. “John Wayne Gacy, Jr.”, falsete, guitarra e a humanização de um serial-killer fazem uma das mais surpreendentes canções do ano. “His father was a drinker / and his mother cried in bed” dão o mote para uma vida que acabou com muitas outras vidas. “Twenty-seven people / even more / they were boys / with their cars / summer jobs / oh my god!”. No fim, diz que “in my best behavior / I am really just like him” e, a acabar, suspira de alívio, como se lhe tivesse custado imenso dizer isto. Quer seja um esquema para dar um pouco de humanidade a uma maneira “artificial” de criar, ou quer seja mesmo sentido, queremos lá saber. O que conta é o produto final.

“Jacksonville” é uma cidade e a sua canção correspondente tem uma melodia de órgão viciante no refrão, enquanto “Decatur” rima com “emancipator” na pessoa de Abraham Lincoln. Mas a estrela do disco é “Chicago”. Uma das melhores e mais tocantes canções do ano, começa com glockenspiel e logo entra uma bateria a partir e tudo pára, começando Sufjan a cantar: “I fell in love again / all things go / all things go”. O refrão é belíssimo e algures no fim vem a confissão que faz todos duvidarem da masculinidade de Sufjan: “If I was crying / in the van / with my friend / it was for freedom / from myself / and from the land”. Quem é que quer saber de preconceitos estúpidos quando estamos perante uma das canções mais inevitáveis do ano? “The Man of Metropolis Steals Our Hearts” traz, finalmente, o rock a Illinois, com guitarra e feedback e um refrão em coro: “Only a steel man / came to recover / if he had run from gold / carry over / we celebrate our sense of each other / we have a lot to give one another”. Assim, Sufjan fala das pessoas, dos homens da América profunda que trabalham e trabalham para ganhar a vida e não fazem quase mais nada. “They are Night Zombies...” tem um coro a cantar “I-L-L-I-N-O-I-S” e fala de (duh) zombies.

Ao chegarmos a “Out of Egypt...”, vemos que a viagem pelo estado não aconteceu sem alguns percalços e foi algo cansativa, mas mesmo assim extremamente recompensadora. E já não queremos saber da falsidade que pode estar por detrás de tudo.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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