Das duas uma. Ou se vem no futuro a confirmar que Sufjan Stevens é um génio (com os devidos cuidados da utilização de uma palavra com esta força), ou então um doido. Não parece haver aqui caso para meio-termo. Na sua mente continua a ideia de gravar um disco por cada estado do seu país (os Estados Unidos da América, claro está). Depois de Greetings from Michigan: The Great Lakes State, o disco editado em 2003 que projectou verdadeiramente o cantautor para aquilo que é hoje em dia em termos mediáticos, surgiu em 2005 o igualmente aclamado Come on Feel the Illinoise, segundo para a contagem ambiciosa que agora o persegue. Na ressaca do último disco e na continuação da prolificidade de Sufjan Stevens surge The Avalanche: Outtakes & Extras from the Illinois Album, um titulo bastante ilustrativo.

Avalanche faz todo o sentido porque de um disco de 21 temas, Come on Feel the Illinoise, Sufjan Stevens conseguiu retirar e publicar agora uma colecção de 22 canções – algo não acessível a todos. Muitos são os escritores de canções que gostariam de ter estes 22 temas no caixote do lixo, porque The Avalanche é, nos seus quase 76 minutos, algo bonito de se ver. É verdade que o disco se aguenta bastante em “Chicago”, um dos temas mais fortes de Come on Feel the Illinoise, nas suas três encarnações, a acoustic version, a adult contemporary version e a multiple personality disorder version (cada uma delas a fazer justiça ao seu subtítulo); é verdade que esta é uma compilação em que se manifestam os melhores ‘tiques’ e ‘momentos’ de Come on Feel the Illinoise; mas também não é mentira que o resultado é bastante satisfatório. Pop orquestrada feita por gente ambiciosa, ou seja, dupla aspiração.

O magnificamente intitulado instrumental "Vivian Girls Are Visited in the Night by Saint Dargarius and His Squadron of Benelovent Butterflies", pela sua beleza e simplicidade, mereciam uma exploração mais extensa. “Dear Mr. Supercomputer” deixa vício espalhado nas vozes e nos sopros, na fantasia. “The Henney Buggy Band” merece destaque pelas mesmas razões e até ao final do disco outras se assemelham – este é um disco que funciona essencialmente pelo seu todo. A forma de escrita de canções de Sufjan Stevens a esta hora já deve estar patenteada – não será fácil encontrar-lhe referências demasiado óbvias e não será difícil reconhecer os seus temas de olhos tapados.

Parece que já se tornou imagem de marca de Sufjan Stevens fazer música de viagem, para viagem, de mudança. Não é só pela alusão aos estados e pelos saltos constantes por entre território Americano. É porque a sua música deixa um rasto de desejo de evasão e de transformação. Resta esperar que não se desvaneça no objectivo megalómano que Sufjan Stevens um dia se lembrou de perseguir.