DISCOS
Six Organs of Admittance
The Sun Awakens
· 17 Nov 2006 · 08:00 ·
Six Organs of Admittance
The Sun Awakens
2006
Drag City / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Six Organs of Admittance
- Drag City
- AnAnAnA
Six Organs of Admittance
The Sun Awakens
2006
Drag City / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Six Organs of Admittance
- Drag City
- AnAnAnA
O último disco de Ben Chasny, aliás, Six Organs of Admittance, são dois discos num só que sintetizam perfeitamente quase todas as facetas do guitarrista.
Ben Chasny, no seu oitavo disco como Six Organs of Admittance, traz-nos aquilo que dele esperamos. Ou seja: a voz de quem não gosta de cantar e gosta de escondê-la da melhor forma possível (cantando baixinho, distorcendo-a), dedilhados delicados e bonitos de guitarra, melodias perfeitas, drones, ruído de fundo, certas explosões e partes repetidas com uma carga algo espiritual. Ora acalmia, ora confusão, onde a canção e a exploração da tradição da guitarra americana (às vezes eléctrica, distorcida, às vezes acústica, também às vezes distorcida) encontram o psicadelismo e a música de outros mundos.

Há, em The Sun Awakens, dois discos. Os primeiros vinte minutos começam e acabam com a mesma canção, “Torn By Wolves” e “Wolves’ Pup”, a primeira eléctrica, com acompanhamento de bateria (aqui é o baterista dos Comets on Fire, banda da qual Chasny agora faz parte e com a qual veio a Portugal em Outubro, Noel Von Harmonson, ao contrário de Chris Corsano, que o acompanhou em School of the Flower), e a segunda acústica, só com guitarra.

“Bless Your Blood” traz repetição, drones omnipresentes, piano, percussão, vozes processadas e “ooh-oohs”. “The Desert is a Circle” é quase uma banda-sonora de um qualquer western, algo que poderia muito bem ter sido escrito por Ennio Moriconne ou tocado pela guitarra solitária do Neil Young da banda sonora de Dead Man de Jim Jarmusch. “Attar” tem uma linha de baixo quase pós-punk/industrial e percussão metálica, e cordas de guitarra a vibrar intensamente.

A segunda parte é um só tema. Uma experiência que às vezes deixa de ser música e passa para outro plano qualquer. “River of Transfiguration” é algo religioso. O próprio nome remete para isso. Há que dizer que o nome “Six Organs of Admittance” tem uma origem budista, sendo que, dessa forma, isto faz perfeito sentido. Vinte e três minutos e cinquenta segundos de uma peça longa, exigente, cheia de convidados e drones e todo um ambiente soturno que pode ser difícil de engolir das primeiras vezes, mas se revela bastante recompensador depois.

Dois discos num só, da concisão da primeira parte - sempre com as devidas concessões à experimentação, ao barulho e ao psicadelismo a que Chasny sempre nos habituou - à inesperada segunda parte. Não que sejam discos que funcionem muito bem como um só, contudo. Mas Six Organs of Admittance tanto pode ser a peça mais calma e bonita do mundo (como “Wolves’ Pup”), só com guitarra acústica e sem efeitos nenhuns como Ben Chasny numa de descargas eléctricas barulhentas na guitarra com Chris Corsano a partir tudo na bateria por trás. E esses dois Ben Chasnys (e o outro dos drones religiosos) são a mesma pessoa, como é a pessoa que salta e ajuda à gloriosa dessarumação e intensidade que são os Comets on Fire ao vivo. E isso só pode ser bom.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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