DISCOS
12Twelve
L'Univers
· 16 Nov 2006 · 08:00 ·
12Twelve
L'Univers
2006
Acuarela


Sítios oficiais:
- 12Twelve
- Acuarela
12Twelve
L'Univers
2006
Acuarela


Sítios oficiais:
- 12Twelve
- Acuarela
Colectivo catalão atrai até ao seu jazz cósmico a produção de Steve Albini e obtém óptimos resultados.
Da editora espanhola Acuarela estamos habituados a pop/rock indie de nível bastante satisfatório. Os Migala, principalmente por causa de Restos de Un Incendio, serão provavelmente a maior imagem de marca da editora do país vizinho: indie rock frágil, melodias tristes e previsivelmente belas. Agora da Acuarela chega-nos um projecto diferente. Agora, com este último álbum L’Univers, os 12twelve esforçam-se por quebrar qualquer ideia de rótulo que tenhamos da editora. Se nos discos anteriores - Tears, Complaints and Spaces (2001), Doppler (split com os Ya Te Digo, 2002) e Speritismo (2003) - revelavam uma associação directa aos territórios daquela música nebulosa que foi classificada como pós-rock, à experimentação do krautrock e até ao psicadelismo, mostram-se agora abertos a formas muito próximas do jazz.

Mas qual será a importância dos títulos, das tentativas de classificação, dos rótulos? São um modo fácil de enquadrar o músico (ou banda) dentro de um formato definido e universalmente compreendido, é certo. Mas na simplicidade dessa rotulagem perde-se uma infinidade de pormenores que só na escuta atenta são possíveis captar. È particularmente penoso tentar enquadrar estes catalães num parâmetro unívoco, rígido, único. A música destes 12twelve é feita no limite, sobre as fronteiras, por vezes invadindo alguns territórios um pouco mais explicitamente, mas sem se deixarem ficar muito tempo num espaço facilmente catalogável.

É um estranho “Mr. Gesus” que abre o álbum. Os instrumentos vão entrando à vez: contrabaixo pesado, bateria acelerada, guitarra certinha e por fim o saxofone, que desenvolve a melodia. Os improvisos vão chegando, alternando com frequentes recorrências do grupo à melodia principal. É quase jazz, quase. Ao segundo tema o ritmo acelerado serve de base à divagação sónica que se vai aproximando do som dos Tortoise ou das bandas da cena de Chicago. Vamos a entrar na terceira faixa e ainda não sabemos bem como classificar esta música, portanto. O terceiro tema é um híbrido que concilia alguma regularidade da estrutura jazz com a explanação sónica da guitarra, representativo do modelo que orienta quase todo o álbum. Excepções à linha de ordem geral são a quarta faixa - momento de maior intensidade free - ou a sexta música, “La Modelo”, de uma quietude quase ambiental.

Relembrar a elasticidade estilística dos Mandarin Movie de Rob Mazurek, Steve Swell e Alan Licht não é de todo descabido, se bem que esta proposta espanhola não se acerque a alguns níveis de brutalidade (o que mais se aproximará será o penúltimo tema, “Autobahn Polizei”). Apesar das tentativas de rotulagem que se queiram fazer, este quarteto esquiva-se para o seu universo particular. Produzido pelo mítico Steve Albini, este disco esquiva-se a predefinições falaciosas, encaixotamentos fáceis ou descrições simplistas. Ainda não sabemos bem do que se trata, mas ficámos com a certeza que se trata de um objecto maior de jazz transfronteiriço de 2006.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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