DISCOS
V/A
Bip-Hop Generation vol. 8
· 06 Set 2006 · 08:00 ·
V/A
Bip-Hop Generation vol. 8
2006
Bip-Hop


Sítios oficiais:
- Bip-Hop
V/A
Bip-Hop Generation vol. 8
2006
Bip-Hop


Sítios oficiais:
- Bip-Hop
Oitavo volume da série Bip-Hop Generation supera as limitações impostas pelo formato e revela valiosas pistas sobre aquele que poderá ser o futuro próximo de Murcof, além atestar certificados ao presente criativo de Mitchell Akiyama e Minamo.
Conforme profetiza a colectânea Bip-Hop Generation vol. 8, eis que à quarta letra a compor o seu nome e em conformidade com a dobragem do cabo silábico, Murcof criou o espaço – imenso, infinito, totalmente alheado do plano terrestre abandonado. Para melhor entender os antecedentes que até aqui o trouxeram, recapitule-se os títulos que formam as iniciais do seu nome: Martes, Utopia, Remembranza. Sem nada que o confirme oficialmente como mote para nova etapa cósmica, a colossal “Constelaçion” incluída nesta colectânea, além de obedecer à lógica verbal encadeada por Fernando Corona, representa para já Murcof de recente colheita e flagrante indicio de que o céu é limite ultrapassável. O próprio havia já assumido em entrevista que a natureza proporcionava-lhe o seu filme favorito nas situações em que oferecia uma noite sem lua que ofuscasse o brilho das restantes estrelas. “Constelaçion”, tal como indica o título, aglomera-as a todas: projecta em cinemático widescreen densas vagas sem inicio ou conclusão, bifurca essa amplitude em duas fases distintas (o movimento de corpos sucede-se apenas após a ambientação da primeira metade), mergulha em estado amnésico face à amnésia do anterior Remembranza. Provavelmente, terá sido esta a mais bem conseguida tentativa de encapsular (em 12 minutos) toda a inspiração adquirida ao acervo de referências de ficção-científica a que a obra Solaris serve de rolha. Aguarda-se por novas deste Murcof astrológico com a ansiedade de quem espera pelo regresso de uma equipa de astronautas elucidados.

Mas nem só de Murcof consiste a oitava colecção de temas que organiza a Bip-Hop como vista a - de acordo com o lema da casa - documentar as alianças entre instrumentos acústicos e tecnologias digitais. Também figuram por aqui ilustres como Tennis, Mitchell Akiyama, os japoneses Minamo e os novatos Strings of Consciousness - organizados por país de proveniência e reservados ao direito de serem representados por um tema longo ou por mais do que um. Sucedem-se estes a outros talentos agora dado como garantidos que haviam surgido em anteriores compilações, quando nem sequer eram fenómenos (caso da dupla FM3, responsável pela muito debatida Buddha Machine) ou sob o pertinente pretexto de encontrarem no lançamento conjunto a oportunidade ideal para desovar complementos estratégicos a discografias riquíssimas (haviam surgido nesses moldes Taylor Deupree ou o australiano Pimmon). Por terem desenvolvido para si próprios uma auto-suficiência editorial, grande parte desses nem sequer lançam os seus discos pela Bip-Hop, que os promove de forma nobre e cativada pela admiração que merecem. Mais do que um mero instrumento de promoção, o oitavo Bip-Hop Generation serve de montra - conceptualmente viável e amigavelmente equilibrada – ao que de mais empolgante se vai sucedendo nos meandros no panorama da electro-acústica.

Contribui para que dissipem cepticismos vários a intervenção iluminada de Mitchell Akiyama e dos Minamo (que, muito em breve, lançarão um muito aguardado trabalho na portuense Esquilo). O primeiro faz ciência a partir da aplicação fragmentária engenhosamente aplicada ao farto armazenamento de elementos acústicos em estado bruto - ora circularmente repetidos, ora mais endiabradamente improvisados e silenciados assim que surge em cena uma noção trôpega de melodia. Em três tempos, “The Tactile Qualities of Light” multiplica-se em cacofonia, cumpre escala na tal melodia grotesca e ainda arranja tempo para, a partir de um duelo entre guitarras e instrumentos de cordas violentados, desabar em cortejo fúnebre. Os segundos não se poupam de, a cada novo trabalho, se superarem a si mesmos e garantirem a anexação de subtis divisões ao seu já de si riquíssimo espectro de recursos electro-acústicos que, no caso dos Minamo, representam inevitáveis convites ao aperfeiçoamento e camuflagem da miríade de detalhes em que é próspero “FootFall”. À continuidade de um piano a actuar como goteira teimosa vai-se contrapondo toda a variedade possível de manipulações digitais que tornam esguias ou fugidias as guitarras horizontais. É realmente terapêutico escutar estas auroras graduais a uns Minamo a que cada vez mais urge permanecer atento.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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