DISCOS
Electric President
Electric President
· 15 Mai 2006 · 08:00 ·
Electric President
Electric President
2006
Morr Music / Flur


Sítios oficiais:
- Electric President
- Morr Music
- Flur
Electric President
Electric President
2006
Morr Music / Flur


Sítios oficiais:
- Electric President
- Morr Music
- Flur
Embora paradoxais, as leituras imediatas do nome Electric President muito podem revelar sobre o disco homónimo que a Morr decidiu lançar no início deste ano. À partida, pode o desígnio que assume a dupla composta por Ben Cooper e Alex Kane encorajar à escuta todo um público europeu enfadado com a política externa do mandato Bush. Nesse caso, Electric President constituiria a promessa de que as cerimónias protocolares estão prestes a ser televisionadas como se os seus protagonistas estivessem ligados à corrente. Logo a pop tal como a conhecemos encontrar-se-ia na eminência de sofrer um curto-circuito interno que obrigasse a uma reconstituição diferente da sua anatomia. Mas desconfia-se de imediato das certezas oferecidas por um projecto com este nome proveniente da Florida. O Electric President é afinal um protótipo avançado de robot programado para debitar pop convincente. Aquele que, “p’ró menino e p’rá menina”, reproduz em movimentos mímicos os que idolatra.

Libertem os românticos de armário (espiritualmente guiados pelo hino que Damon Albarn escreveu para a banda-sonora de Trainspotting). Deve o surgimento de Electric President servir como argumento de peso a uma liberdade condicional a ser atribuída a quem não via a luz do sol desde Young Forever dos escoceses Aberfeldy ou a quem o ofuscou com Etiquette, o mais recente soluço de Casiotone for the Painfully Alone. A campanha que Ben Cooper (metade dominante do duo) dirigia a partir da sede Radical Face, onde tudo o que emitisse ruído representava um potencial instrumento, conhece continuidade nos Electric President, onde se decidiu por aliar os seus aos atributos de Alex Kane – sendo que ambos se ocuparam autonomamente de executarem tudo o que se escuta a este primeiro homónimo.

Pode até ser sido essa oligarquia autista a condenar o disco. Não é descabido apontar que a maior lacuna de Electric President o facto de se concentrar na errante gestão de critérios aplicada à maioria das suas faixas. A cada vez que se encontra em posição de poder declarar “Xeque-mate” - por obtenção de posicionamento idealmente estratégico para o seu modus-operandi lo-fi -, opta a dupla californiana por conduzir o seu sentido pop à margem da prancha do barco e deixar o excentrismo e excesso assumir o leme. Nada me prepararia psicologicamente para o desastroso flow que “Metal Fingers” escalpa à estética andróide da Anticon - isto quando conseguem ser confortantes os seus primeiros dois minutos delicadamente erguidos a partir de guitarra espacial e sussurro trespassante. “Ten Thousand Lines” atribui uma ideia clara do que podiam ser os Bardo Pond se voltassem a usar fraldas. “Farewell” tenta aproximar-se ambiciosamente dos Flamings Lips e a partir daí amassar maná que sirva às pretensões dos sonhadores. É legitima a vontade, mas o descalabro sucede-se quando os Electric Presidente fazem alternar repentinamente estilhaços de power pop distorcida com xilofone, piano e cordas. Não é Conor Oberst (em modo “Desaparecido”) quem quer.

Ainda não finara o Janeiro que o desovou e Electric President já havia conquistado uma significante falange de entusiastas (tendo inclusive obtido lugares cimeiros de listas referentes ao mês). Há sempre quem encontre a sua preferência na superfície de uma pérola polida - ainda mais, quando esta tem a simpatia mas nem por isso o carisma. Diga-se apenas que pérolas como esta podem ser penduradas ao pescoço. As dimensões de Give Up dos Postal Service mereciam-lhe as melhores joalharias. Em todo o caso e dado que a comparação é inevitável, o mais certo é que Electric President venha a encontrar Ben Gibbard e Jimmy Tamborello a acenar de elevadas alturas. À distância de 3 anos, é provável que os últimos vejam neste um progénito bastardo perfeito. Quando certamente não o é. Nem de perto nem de longe.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros