DISCOS
Oranger
New Comes and Goes
· 26 Fev 2006 · 08:00 ·
Oranger
New Comes and Goes
2005
Fargo / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Oranger
- Fargo
- AnAnAnA
Oranger
New Comes and Goes
2005
Fargo / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Oranger
- Fargo
- AnAnAnA
Os Oranger são uma banda simpática. Mas indieferente, como bem definiu um redactor cá da casa. Fazem parte daquele grupo de bandas que podemos pôr a tocar no rádio do carro, a caminho da praia, sem desagradar à malta. Obviamente isto implica um lado mau: dificilmente os Oranger escreverão a música da vida de alguém.

Há um texto prodigioso de Miguel Esteves Cardoso (“Como ser um crítico de rock – Um guia prático”), incluído em Escrítica Pop, em que este parodiava os críticos musicais, exemplificando métodos de crítica “sem audição” e “com audição”. Neste último caso, o autor indicava que faixas se deviam ouvir para ter uma ideia do melhor e pior do LP (no tempo do vinil, eram indicadas a primeira do lado A e a quarta do lado B). No caso dos Oranger é ainda mais fácil do que isso, porque a primeira faixa faz uma média perfeita: se é verdade que há ali um riff extremamente catchy, também há uma dificuldade quase aflitiva no desenvolvimento de uma estrutura que surpreenda o ouvinte, de um refrão que o ataque ou pelo menos agarre, ultrapassando a mediania, e evitando uma solução melódica estafada. O que acontece em “Crooked in the Weird of the Catacombs” acaba por se repetir ao longo do disco.

Alguém se lembrou um dia de adaptar ao contexto musical uma expressão que traduz na perfeição uma canção que, com uma estrutura simples e limitada, é levada ao limite: “a jet engine in a Yugo”. Pois é, quem conseguir meter um motor de avião num daqueles minúsculos carros jugoslavos consegue aumentar a rotação, mas não disfarça fragilidades, se bem que a tal ida para a praia até possa ser mais divertida. Os Oranger fazem mais ou menos isso, recorrendo inúmeras vezes ao artifício de repetir um tema instrumental inúmeras vezes ao longo de uma canção, algo bem evidente nas duas primeiras faixas. Também não será por acaso que apenas a faixa de abertura ultrapassa a marca dos três minutos, sendo que há cinco temas que nem aos três minutos chegam. Mas deixemos de ser negativos, porque estamos de longe de estar perante um disco de fugir: há muitos bons riffs (mesmo que o de “Haeter” pareça roubado a “The Seed (2.0)”, dos The Roots) e uma boa produção (“Garden Party for the Murder Pride” tem uns blips metidos lá para o meio e uma cowbell que a arranca da banalidade). Do lado oposto, “Flying Pretend”, gerada ao piano e sustentada por um lamento de guitarra em feedback é a balada tão dispensável quanto inevitável.

De resto, o disco é constituído na base do tradicional bateria-baixo-guitarra-voz, por entre um instinto pop, um desejo indie e referências dispersas ao “novo rock” e ao rock FM. Por isso, após um par de audições, há uma clara dificuldade em apontar um ou outro destaque (o desvio padrão das faixas é baixo), porque tudo soa mais ou menos plano, sem grandes traços distintivos. “Come Back Tomorrow” será um dos exemplos contrários: é uma música mais nervosa e mais abrasiva do que as restantes, numa espécie de Strokes da era Is This It, ainda assim amaciados.

Talvez os Oranger arranquem um dia uma canção típica de “one hit wonders” que os eleve ao mainstream. Até lá, pode dizer-se sem ironias, serão apenas uma banda simpática e honesta. Mas ouçam-nos na desportiva: até vão gostar, talvez cantarolar e bater o pé. Há bandas que servem para isso mesmo.
João Pedro Barros
joaopedrobarros@bodyspace.net

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