DISCOS
The Peppermints
Jesüs Chryst
· 13 Out 2005 · 08:00 ·
The Peppermints
Jesüs Chryst
2005
Paw Tracks


Sítios oficiais:
- Paw Tracks
The Peppermints
Jesüs Chryst
2005
Paw Tracks


Sítios oficiais:
- Paw Tracks
É barulhento, é imundo, é cheio de imperfeições e com orgulho. Podem apelidá-los de trash rock que eles com certeza não se importarão. Depois de algumas cassetes no selo Ivy Oh!, um 7" na Pet Set Records, um EP na Ivy Oh! e na NGWTT e Sweettooth Abortion, o disco de estreia de 2003, na Pandacide Records, foram descobertos pelos Animal Collective que lhes pediram que gravassem um disco para a sua editora, a Paw Tracks. O resultado é obrigatoriamente caótico, disperso, desordenado, quase duas dezenas de faixas que encapsulam punk rock furioso, noise, berros, gritos, rugidos, urros e palavras de ordem, palavrões e olhos pisados. O resultado é Jesüs Chryst, o segundo disco da banda de San Diego constituída por gente tão conhecida do público geral como Lil G'Broagfran, M. Ron Hubbard, Grim Graham e Ms. Hot Chocolate. A própria capa do disco mostra que os Peppermints não estão para mostrar a obra tal e qual ela foi concebida. Estão dispostos a mostrar a Última Ceia de acordo com a sua imaginação pervertida e adulterada – e é provável que tudo acabe num deboche ou numa grande luta de comida.

É provável que tudo não tenha passado sequer de um sonho, a não ser que as manchas negras incomodem depois do acordar. A música destes Peppermints é sobretudo física mas também é capaz de deixar marcas a nível psicológico. As comparações são na maior parte das vezes feitas com nomes como os Melt Banana e G.G. Allin, mas também com os The Fall. É tudo muito rápido, urgente mas isso não é sempre resultado de satisfação. Às tantas tudo parece ser mais aleatório do que fruto do momento, mais arty do que outra coisa. Com a excepção de “Onion Salad†– com a produção mais limpa e polida, parece cair aqui de paraquedas – é raro ouvir-se a estes Peppermints algumas palavras que sejam minimamente perceptíveis – mas o mais importante aqui não será aquilo que tentam dizer. Aqui gasta-se mais a atitude DIY – o faça você mesmo – a procura da cisão com o estabelecido. Há aqui espaço para boas malhas (como a faixa de abertura “Yellow Rain†ou “I Lost Itâ€), mas há outro tanto de desinteressante (“Anxiathon†é um desses casos) que se começa a notar essencialmente lá para a segunda metade do disco, ou seja, quinze minutos para cada lado. Pelo meio há ainda tempo para algumas baladas imprevisíveis e de gosto duvidoso que, embora alarguem a palete musical de Jesüs Chryst, pouco ou nada acrescentam.

Surpresa ou não, a maior parte deste disco foi produzido por Gar Woods dos aparentemente extintos Hot Snakes, banda com a qual os Peppermints partilharam alguns palcos em 2004. Tanto quanto se sabe, o valor principal dos Peppermints está nos concertos - provavelmente no mosh pit - por isso é legítimo perguntar se este Jesüs Chryst não falhará em parte no espelhar daquilo que estes Peppermints são realmente ao vivo. É plausível que haja bandas que nunca consigam transpor para disco o caos e brutalidade que marcam os seus concertos. Os Animal Collective poderão dar uma ajuda na resposta, os Hot Snakes ou mesmo aqueles que se dizem vítimas de olhos negros ou ouvidos danificados. Ou os microfones. Ou os amplificadores. Ou os donos de lojas de roupa em segunda mão. Ou mesmo Leonardo Da Vinci.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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