DISCOS
Criteria
When We Break
· 18 Ago 2005 · 08:00 ·
Criteria
When We Break
2005
Saddle Creek / Ananana


Sítios oficiais:
- Criteria
- Saddle Creek
- Ananana
Criteria
When We Break
2005
Saddle Creek / Ananana


Sítios oficiais:
- Criteria
- Saddle Creek
- Ananana
Consta, de entrevistas e relatos fidedignos, que nos escritórios da Saddle Creek tudo se resolve irmãmente, incluindo a selecção de lançamentos. Parece não existir entre a elite de Omaha um monstruoso ego que procure a todo o custo envergar o anel que atrai jornalistas e multinacionais como a Geffen. Talvez porque se antecipou na definição de uma estética caracteristicamente Saddle Creek, Conor Oberst é - pela coragem demonstrada - o Frodo da irmandade. O fardo escolheu-o e não o inverso. Isto porque, como é sabido, o príncipe indie assina os discos sob o disfarce de Bright Eyes. A partir daí gere, de forma rotativa, o rol de camaradas de editora e músicos da sua confiança, enquanto os adapta à funcionalidade do seu songwriting. Tem-se dado bem com isso. Melhor ainda quando limita a dispersão do brilho a um escasso número de participantes. Por isso, devia ter aplicado o mesmo critério aos discos que consente ver carimbados pela Saddle Creek. When We Break resulta de um apadrinhamento conjunto por parte dos preponderantes Conor Oberst e Tim Kasher (a alma dos Cursive), o que não o impede de soar a elo mais fraco consentido por falta de controlo de qualidade.

Na sua essência, os Criteria correspondem a Stephen Pedersen e três outros músicos recrutados para o lugar de tarefeiros (isto porque o mentor tinha o disco estruturado antes de permitir intervenção alheia). O segundo When We Break esconde uma história de convicção e cumprimento perante o destino: Stephen Pedersen comprometeu-se a abandonar uma bem encaminhada carreira ligada à advocacia, caso o (literalmente) seu disco fosse lançado pela Saddle Creek. Entretanto, admitiu que não partilhava da facilidade dos seus mecenas no que toca à escrita de canções memoráveis. Elementar, meu caro Pedersen. When We Break é raso em termos de ideias. Pior, não consegue sequer provocar faísca junto de ouvidos sedentos de pop. Fica, assim, aquém dos mínimos necessários a uma campanha bem sucedida por entre os corredores de um qualquer campus universitário norte-americano.

Reconheça-se, pelo menos, o bom senso de não ter sido incluído no caldinho instrumental um violino tocado a martelo, a mais sensaborona excentricidade conhecida ao punk-rock de unhas pintadas de negro. Todos os restantes tiques marcam presença em When We Break: o tom vocal de quem sente como ninguém, a música talhada à ressurreição sentimental (“Grey Matter” mete um dispensável piano lamechas), as guitarras determinadas a limar a EMOção com constante ricochete. O principal critério parece assentar sobre o trilhar do atalho mais curto entre os saudosos Quicksand e uns Tool abaixo da marca dos 4 min. Não resulta. Pelo menos, até ao dia em que equacionarem When We Break como banda sonora para uma nova temporada da série Riscos - temporalmente situada numa era pós-atómica, em que a Maria João tenha finalmente colocado termo à sua resistente castidade e a Rita sido vítima de todas as doenças e tragédias conhecidas e por inventar.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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