DISCOS
Bloc Party
Silent Alarm
· 12 Jul 2005 · 08:00 ·
Bloc Party
Silent Alarm
2005
V2


Sítios oficiais:
- Bloc Party
- V2
Bloc Party
Silent Alarm
2005
V2


Sítios oficiais:
- Bloc Party
- V2
Something glorious is about to happen / The reckoning!” (Positive Tension)

Há uma revolução para ser feita, a necessidade existe e é reconhecida em grande parte dos cidadãos do caos descontrolado que se está a tornar este planeta. Existe uma convergência declarada entre todos os meios culturais para a resolução sónica das catástrofes que aparecem nos noticiários. Enquanto Jamie Stewart grita aos ouvidos de soldados norte-americanos, Kele Okereke, vocalista dos Bloc Party, discursa num sólido bastião que ambiciona ter a altura suficiente para que a sua figura de destaque possa ser ouvida do outro lado do Atlântico.

Partindo de um conjunto de influências que claramente inclui Joy Division, Wire, The Fall e toda a cena art rock dos anos 70, os Bloc Party e o seu LP de estreia, Silent Alarm, chegam aos ouvidos do mundo através dos heróis do momento, Franz Ferdinand. E há pontos específicos em que convergem ambas as bandas: o conjunto de influências, a preocupação com os pormenores de composição e aquele som declaradamente vintage, ainda com o cheiro às válvulas dos amplificadores. Semelhanças à parte, Silent Alarm encontra a sua distinção na tonalidade quase épica dos seus clímaxes e na variabilidade da intensidade com que a banda ataca os seus temas.

“Like Eating Glass”, a faixa de abertura de Silent Alarm, é um chamamento global a plenos pulmões a todo um público correntemente receptivo ao anglicanismo dos primeiros acordes e à temática da sentimentalidade de “I can't eat, I can't sleep / I can't sleep, I can't dream (...) / It's so cold in this house / come and show me how it was”. “Helicopter” envia um recado de emergência a quem de responsabilidade na antiga colónia inglesa (“Just like his dad / some things will never be different”) num ultimatum que só termina em “Positive Tension”. “Banquet”, o single que levou os Bloc Party a todos os tablóides culturais de relevância do momento (assim como a toda uma geração ansiosa por etiquetar alguma banda como os FF do ano), é tão dançável e viciante como já o tinha sido, sensivelmente um ano antes, “Take me Out”.

Why so damn absent-minded? / Why so scared of romance? / This modern love breaks me / This modern love wasted me” (This Modern Love)

“This Modern Love” é a canção mais reservada do álbum, suficientemente complexa para não quebrar o ritmo e suficientemente melódica para ser levada a sério, comentário que serve também, na perfeição, para “So Here We Are”. “Compliments” declara o termo de Silent Alarm, com um suspiro silente de frustração na incapacidade de reagir aos problemas actuais, pessoais e globais, de Okerele, naquele que é o primeiro momento realmente intimista do LP de estreia da banda britânica.

Silent Alarm é a estreia rompante de mais uma banda que beneficia, e justamente, do mercado do momento deste género de art rock (atire-se a culpa, merecidamente, aos The Strokes e aos já referidos Franz Ferdinand). Com uma visão muito actual do mundo, os Bloc Party apresentam-se como uma das promessas inglesas do momento. Se bem que não trazendo consigo as palavras de solução a todo o seu ponto de vista para a situação mundial, a banda de Essex pode-se congratular, pelo menos, de incentivar à tão desejada revolução.
Miguel Azevedo
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