A vida ama-nos. Bom, talvez não ame, mas ama certamente Nicolette. Nascida na Escócia, esta descendente nigeriana começou nestas andanças dos lançamentos com os Shut Up and Dance em Londres, depois participou em dois temas de Protection, dos Massive Attack, e tem já 12 anos de carreira a solo. Até lançou um DJ Kicks. Dotada de uma voz especial, é impossível fugir à expressão que alguém um dia usou para a descrever: Billie Holiday em ácidos.

Pegou nos Plaid para os seus discos em Let No One Live Rent Free in Your Head de 1996 e voltou a pegar neles agora - bem, já há uns meses - para Life Loves Us, apesar de a maior parte da produção estar a cargo da própria. Há uns meses, porque foi editado primeiro no Reino Unido. Portugal teve de esperar poucos meses para que a editora de electrónica mono¨cromática lançasse o disco em parceria com o pasquim semanário Blitz. O que é extremamente louvável, já que a mono"cromática lança discos quando o rei faz anos, andando demasiada ocupada com a gémea netlabel Test Tube. O que não tem mal nenhum, diga-se de passagem.

E o que é que se pode esperar de Life Loves Us? Os beats idiossincrásicos e a voz peculiar de Nicolette, talvez demasiados interlúdios - de Simon & Garfunkel a nursery rhymes - e canções assumidamente pop. Bons e orelhudos refrões. Uma festa, se ultrapassarmos a estranheza inicial. Os beats são líquidos como água, extremamente fofos e dóceis e as canções são fixes, porreiras.

Um dos problemas reside na mensagem. Não que haja algo de mal com o discurso da paz e amor, antes pelo contrário, mas talvez já farte um bocado. Até fica giro - há que admitir - como em "Wholesome", onde aparecem letras como "Love is wholesome, love makes babies" ou "Give it up if you're holding grudges / Give it up if you worship money". Irrita um pouco, mas estranhamente resulta como canção. Há também "High Wave", cujo refrão é "I'm so happy yeah" repetido ad nauseam.

Depois há o facto de Life Loves Us não ser propriamente diferente do resto da carreira de Nicolette. Ainda assim, é impossível dizer que este não é um bom disco, porque o que é que isso interessa? Com temas como "Sunshine", "Jenny" e "I'm Where The Party's At" quem quiser saber disso para alguma coisa não bate bem.

Life Loves Us é o que se podia esperar dele. É bom, faz a festa, tem boas canções, suficientemente orelhudas, tem uma voz estranha mas extremamente eficiente e bonita, tem um design bestial e ainda por cima é bem barato. De que é que estás à espera, jovem? É Verão, pega na tua namorada e na tua acelera, vai até à praia e bebe uns martinis ao som da Nicolette. Ou então fica em casa a ver as novelas da tarde e não faças nada do que dizemos, nós também não queremos saber. A vida ama-te, o amor faz bebés, e para além disso a vida é tua, faz o que quiseres dela.