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This Is a Process of a Still Life
This Is a Process of a Still Life
· 22 Mai 2005 · 08:00 ·
This Is a Process of a Still Life
This Is a Process of a Still Life
2004
Firefly Sessions


Sítios oficiais:
- This Is a Process of a Still Life
- Firefly Sessions
This Is a Process of a Still Life
This Is a Process of a Still Life
2004
Firefly Sessions


Sítios oficiais:
- This Is a Process of a Still Life
- Firefly Sessions
Se é verdade que se pode associar a música de tonalidades mais ambientais a imagens como paisagens longínquas, lugares remotos, o mar em tons sépia, o infinito e o local exacto onde, no horizonte, a linha das ondas se confunde com a linha do céu e demais cenários idílicos, os This Is a Process of a Still Life podiam muito bem ser os autores de bandas sonoras para películas que representam brandos finais de tarde passados junto das águas mornas, manchadas pelos últimos raios do sol – e talvez uma das maiores vantagens da música instrumental seja a liberdade de pensamento distante dos refrões e palavras por vezes desnecessárias. Oriundos de Montana, os This Is a Process of a Still Life – para que a descrição inicial não caia em fundo roto - movimentam-se algures entre uns Sonna e uns Explosions in the Sky menos complexos e dinâmicos. Enquanto uns salivam, outros insultam o pós-rock e confessam-se fartos, mas este é um disco que procura encontrar o meio-termo. O ponto exacto entre os ansiosos por mais e os que já estão a largar o vício, sem exageros ou pretensiosismo, ou seja, um disco para a família.

Na verdade, pouco mais há a fazer à fórmula do que acrescentar-lhe beleza, algo em que ainda se possa acreditar. Os riffs distorcidos em forma de ganchos que brotam em “Oh God, the Lights are Going Down” são um bom princípio, a por vezes vertiginosa encruzilhada de guitarras ou a forma como criam tensão sem explodir em ”No Memory of the Airshow” constituem seguimentos perfeitos. A introdução de novos elementos de tema para tema parece ser uma escolha consciente e democrática como resposta a um túnel que corria muito bem o risco de não ter luz. “Pretty is Predictable” é surpreendentemente uplifting, upbeat e tudo mais que possa traduzir aquilo que é o levantar da escuridão que norteia o par de temas que inicia o disco. Há constantes mudanças de ritmo guiadas pela percussão, guitarras reluzentes, cordas e a confirmação que este não é um disco para passar despercebido. Essa confirmação parece ainda mais clara quando surge a delicadeza de “The Things We Learned About Neptune”, um exercício melódico que explora a doce melancolia e o amargo contentamento, ou um possível acordo entre os dois. É tão upbeat como é “Pretty is Predictable”, tem de novo o trilho de guitarras resplandecentes, tem um olho fechado e o outro nas mudanças de ritmo.

Para conferir mais profundidade, há por aqui algures rastos de melódica, sinais de um rhodes sempre delicioso. E depois – claro, não podiam faltar – os samples, aqueles que se podem ouvir no início de “Skywriting Over Virginia”, provavelmente o tema menos interessante de todo o disco. Mas a remição não demora muito. “Things/cells/beings” faz terminar a viagem, afirmando-se inicialmente como o tema mais ambiental de todos. Algures entre o nevoeiro, aquele barco que desconfiamos desabitado continua o seu rumo para nenhures. Mas a calma é por vezes uma ilusão e as coisas tornam-se vivas e nítidas lá mais para o fim, com sinais de guitarras redentoras. Mas não demasiado, senão tornar-se-ia impossível esboçar a visão de um sono perfeito – de preferência após o final do disco - ao som de mais uma narrativa do pós-rock.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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