DISCOS
Lorna
Static Patterns and Souvenirs
· 18 Mai 2005 · 08:00 ·
Lorna
Static Patterns and Souvenirs
2005
Words on Music


Sítios oficiais:
- Lorna
- Words on Music
Lorna
Static Patterns and Souvenirs
2005
Words on Music


Sítios oficiais:
- Lorna
- Words on Music
O problema da estética é em tudo igual ao dos caramelos. Os traços e qualidades à partida apreciáveis, tornam-se incómodos assim que surgem automaticamente anexados ao nome de uma editora. E o que era uma mina de ouro passa, assim que o piano feito peluche se atreve a arranhar o céu, a ser um calvário de retórica adocicada. Contudo, saliente-se o caso de editoras que, apesar de cultivarem um género muito próprio, percorrem o tempo imunes à repetição. Basta citar a 4AD ou a Ninja Tune como exemplos. A Words on Music não é a 4AD e os Lorna muito menos serão os Cocteau Twins. Repete-se a lenga-lenga – tal como um dia foi instaurada a partir do Minnesota (onde a Words se encontra sedeada) – e é-nos de novo impingida uma terapia de choque à base de algodão doce e gomas em forma de ursinho.

Os suspeitos são os do costume: a pop à procura de congelar o momento, uma imensa variedade de sentimentos dispostos num candelabro de discrição e subtileza, a recorrente tentativa de reduzir a rotação aos extremos mínimos dos Low. Static Patterns and Souvenirs dispõe-se como um sorriso secreto de bolso. A placidez verde dos prados vê-se constantemente ameaçada pela instalação do épico (aqui conduzido pela sensibilidade orquestral do mentor Mark Rolfe). Nada a temer, pois não tardará a surgir o banjo - herói local que acorre ao cenário para salvar o dia. A mesma vinheta repete-se vezes sem conta. Quando não se conseguem distinguir as estrelas às constelações, salva-se a simpatia.

Distingue-se, no entanto, “The Last Mosquito Fight of Summer” como terreno fértil a um theremin manobrado como que para alertar os derrotistas de que um novo dia começa quando a faixa termina. A mais conseguida das faixas do álbum consegue ser tudo o que “Comforting Sounds” (prisioneira da publicidade que a tornou célebre) dos Mew não chegou a ser, nem que seja por ter sido explorada até à exaustão. Num plano inferior, mas igualmente recomendável, surge “He Dreams of Spaceships”, que bem podia pertencer a uns Belle & Sebastian a bordo da Voyager, ao lado do Capitão Kirk e Mr. Spock.

As melodias ensaiadas por estas bandas hão-de sempre ameaçar a desintegração canonizada pelos Cure, para, de seguida, retomarem ao berço Mazzy Star. Tudo por aqui parece convidar ao mergulho nocturno, tal como sugerido pelos R.E.M. em Automatic for the People. Os R.E.M. que, em contraponto a um Around the Sun que dividiu até mesmo os fãs, vêem cada vez mais consolidado o seu estatuto de clássicos aos olhos da geração de músicos a que os Lorna pertencem.

Static Patterns and Souvenirs desfila como uma interminável sucessão de slides que remontam a tardes passadas em Monserrate, Sintra, e passeios domingueiros pelo Jardim Zoológico. É nessas circunstâncias que mais um sorriso maroto equivale ao colapso nervoso e os ouvidos se escondem debaixo do chão como a avestruz.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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