DISCOS
Enslaved
Isa
· 05 Jan 2005 · 08:00 ·
Enslaved
Isa
2004
Tuba


Sítios oficiais:
- Enslaved
- Tuba
Enslaved
Isa
2004
Tuba


Sítios oficiais:
- Enslaved
- Tuba
Nem sempre é fácil imergir numa nova estética musical, particularmente quando precedida de uma série de preconceitos e estigmas pejorativos, como é o caso do black metal. Os Enslaved, pela conotação histórica que os associa ao citado estilo, podem facilmente ser moldados como mais um colectivo norueguês extremo, o que, registe-se, não corresponde de todo à verdade.

Se com Below the Lights, de 2003, o colectivo assumiu definitivamente novas abordagens às roupagens extremas do passado, a nova proposta, Isa, confirma a inclusão de elementos inovadores na espinha dorsal assente em texturas black. Há riffs extremos, interlúdios, guitarras e vozes limpas, delírios progressivos, ritmos circulares, teclados sintetizados, incursões introspectivas e o habitual apelo ao headbanging. A fórmula afasta-se da equação de bandas como Craft, Darkthrone, Carpathian Forest e Khold, sem nunca se aproximar dos exageros épicos e orquestrais característicos de uns, por exemplo, Dimmu Borgir.

É certo que uma das influências do disco de há dois anos não é tão notória na nova proposta – as divagações por fundações seventy, como King Crimson -, embora haja alguns resquícios, nomeadamente na extensão dos temas. Há várias faixas acima dos seis minutos, para além de uma série de deambulações instrumentais, onde as vocalizações são deixadas diversas vezes de parte.

Um dos elementos peculiares do quinteto, constituído por Grutle Kiellsson (baixo e voz), Ivar Bjornson Peersen (guitarra, teclados e voz), Arve Isdal (guitarra), Freddy Bolsø (bateria) e Øyvind (teclados), prende-se com a repetição constante dos riffs mais directos, numa cadência circular. É aí que sobressai outra qualidade imensa, a do domínio do tempo musical. Somos confrontados, em diversas ocasiões, com alternâncias velozes entre harmonias suaves e muito rápidas, condimentadas com mudanças sincopadas de acordes e ritmos. “Violet Dawning” é, em Isa, paradigmático, além de brindar os sentidos com um excelente refrão. Para os ouvidos acostumados às sonoridades mais extremas, a componente vocal não será surpreendente. Quem ousar uma nova experiência, pode estar, provavelmente, perante o busílis essencial. Há momentos em que as vocalizações são limpas, mas há outros em que a voz é seca, rude, áspera e rasgada, como ditam as regras das raízes da banda. “Bounded By Allegiance” serve perfeitamente para introduzir os mais incautos, visto que equilibra a agressividade vocal com a toada viking inicial, ao que se deve somar uma excelente incursão da guitarra solo na metade final da canção. O instrumental “Secrets of the Flesh” é outra opção para introduzir o disco a quem não está familiarizado com este tipo de sonoridade.

“Reogenesis”, com quase doze minutos, descreve exemplarmente os actuais Enslaved. Essencialmente progressivos, muito técnicos – assinalável o solo floydiano que surge após os cinco minutos inicias e outro que remata a epopeia, já no fim -, e melódicos. Ainda assim, áridos a espaços, quase thrashy e enfurecidos. Esta hibridez acaba por estar na origem de algumas críticas da base de fãs mais ortodoxa em relação às opções sonoras da banda. Se a isto contrapusermos o facto de não ser fácil chegar a novos ouvintes, tendo em conta o historial que sustenta as mais recentes edições discográficas, está traçado o perfil dos Enslaved e o respectivo descendente Isa. Essencial.
Germano Oliveira

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