DISCOS
Dizzee Rascal
Showtime
· 22 Nov 2004 · 08:00 ·
Dizzee Rascal
Showtime
2004
XL


Sítios oficiais:
- Dizzee Rascal
- XL
Dizzee Rascal
Showtime
2004
XL


Sítios oficiais:
- Dizzee Rascal
- XL
Dizzee Rascal já não é o mesmo. Já não o pode ser. Boy In Da Corner pô-lo nas bocas do mundo e da crítica e valeu-lhe o Prémio Mercury em 2003 e tournées com Justin Timberlake e Jay-Z. Missão complicada para um rapaz com 19 anos que faz da postura "against all odds" a sua ética, numa reivindicação da velhinha ética hip-hop, sem correntes de ouro ou telemóveis MMS para mostrar nos videoclips. Só passou um ano, mas Dizzee já tem álbum novo. Em "Showtime", assistimos ao compromisso possível entre o amadorismo impressionante do primeiro Rascal (facto condizente com o background UK garage/grime, território dado a talentos jovens) e a nova notoriedade crítica e mediática. O próprio Dylan Mills (aka Dizzee Rascal) reflecte sobre a nova condição ("Dylan's on a hype now! / Worldwide interviews and business trips / Invitations to premiers and new flicks / And all da chicks got his name on their lips", "Hype talk") com o mesmo "flow" desdenhoso que espantou tanta gente em Boy In Da Corner.

Showtime não difere assim tanto do UK garage/grime/hip-hop denso de Boy In Da Corner. Dizzee procede a uma selecção das múltiplas pistas do disco de estreia. Resultado: Showtime funciona melhor como um todo, mas faltam temas como "I Luv U" ou "Fix up, look sharp" que pintavam com mais força o colorido (em escala de cinzentos, obviamente) de Boy In Da Corner. Repete-se o defeito do disco de estreia: o álbum é demasiado longo, mais em termos de tempo psicológico (dada a crueza minimal e repetitiva dos temas), do que os 51 minutos reais que a rodela plástica oferece. Entre os temas tipicamente Rascal, destaque imediato para o hiper-vitaminado "Stand up tall". A receita é Dizzee no seu melhor: batidas jungle para pista de dança, elementos sacados ao hip-hop como o "scratch" e "flow" a 200 kms/hora - um potencial hit. "Girls" é electro-funk-plástico coreografado por robôs (trace-se o paralelo com "I luv u" do primeiro álbum). Outros momentos altos são "Graftin'" e "Respect me", ambos exercícios (aparentemente) primitivos de baixo frio e "beats" densas. Dizzee aventura-se também por outros caminhos. "Imagine" chora amor com teclados Casio baratos. "Dream" é puro pop de jingle comercial para os nossos Natais esquizofrénicos e "Get by" arrisca-se até a ir buscar o r'n'b MTV de voz feminina para o doce refrão.

Dizzee está mais velho, mas Showtime deixa a mesma impressão de puto maravilha que Boy In Da Corner. Dizzee pertence à geração grime/UK garage (e outras designações de uma complexa árvore estilística). Arriscando o estereótipo, volta a vingar a velhinha ideia do pós-adolescente suburbano com tempo livre a mais e que passa horas dedicado a um instrumento. Foram as guitarras no passado a entreter os não-músicos (os punks e os seus filhos). Hoje, são órgãos baratos, beat boxes, Playstations, erva e quartos exíguos transformados em laboratórios de sonhos.
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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