DISCOS
Nine Inch Nails
Bad Witch
· 03 Set 2018 · 22:35 ·
Nine Inch Nails
Bad Witch
2018
Capitol Records


Sítios oficiais:
- Nine Inch Nails
- Capitol Records
Nine Inch Nails
Bad Witch
2018
Capitol Records


Sítios oficiais:
- Nine Inch Nails
- Capitol Records
Um novo começo.
Dois anos após o seu anúncio, eis que chegamos ao fim da trilogia anunciada por Trent Reznor, que começou com Not The Actual Events e passou ainda por Add Violence... Ou, pelo menos, seria essa a premissa - encontrar um fim lógico para a narrativa construída através desses dois EPs. No entanto, aquilo que se observa em Bad Witch, trabalho ao qual Reznor chama um álbum embora tenha a duração e o mesmo número de faixas de muitos bons EPs, não parece ser um fim mas sim um começo.

Expliquemos. Se nos dois lançamentos anteriores ainda vislumbrávamos muito daquilo que ajudou a montar a mitologia e a personalidade dos Nine Inch Nails ao longo de uma carreira com trinta anos (rock industrial agressivo, letras assaz juvenis e raivosas, batida negra e masoquista), em Bad Witch o que temos é um homem a lutar contra si próprio, alguém à procura de ser adulto num mundo que mais parece governado por crianças. Alguém que se cansou da pele que enverga e que quis escamá-la, reduzi-la a retalhos. No fundo, o equivalente musical à Lei de Wolff: partir um osso para que este se fortaleça.

Sendo distinto de tudo quanto Reznor fez ao longo destes últimos anos, Bad Witch não poderia nunca ser encarado como o final da anunciada trilogia. Mas pode ser lido como tal, já que a temática é a mesma: a procura de uma resposta à quantidade de merda que nos rodeia, e que não se encontra na auto-flagelação (Not The Actual Events) ou na violência (Add Violence). Na verdade, talvez não se encontre em lado nenhum. O niilismo que sempre se depreendeu nos Nine Inch Nails está aqui bem presente. There aren't any answers here / No, not anymore, canta ele em "God Break Down The Door".

Juntando um saxofone inspirado por Blackstar (Bowie) e a electrónica que explorou no passado a camadas de ruído rock, Bad Witch é muito melhor do que um fim poderia ser. É um começo, uma indicação de que, daqui para a frente, tudo o que diga respeito aos Nine Inch Nails poderá ser bastante diferente. O que é saudável; impede que o som estagne ou se balance constantemente no passado. Se Add Violence era sobretudo uma paródia do "som" Nine Inch Nails, Bad Witch é a sua evolução; o culminar de anos e anos de aprendizagens e melomania. Reznor está salvo: já não precisa de fazer um Downward Spiral 2.0. Felizmente.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
RELACIONADO / Nine Inch Nails