DISCOS
Eels
The Deconstruction
· 23 Abr 2018 · 14:13 ·
Eels
The Deconstruction
2018
E Works Records


Sítios oficiais:
- Eels
Eels
The Deconstruction
2018
E Works Records


Sítios oficiais:
- Eels
Só perdes se desistes de lutar.
Mark Oliver Everett é um bluesman. Ao longo de mais de 30 anos, o Sr. E., ou Homem-Lobo, ou o que quer que lhe queiram chamar, tem assinado discos onde é sobretudo a tristeza que impera, quando a tristeza não se transforma em agonia ou quando a agonia não se transforma no vazio de não se saber para onde se vai, qual o sentido disto tudo, o que há para além da cortina preta que só se ergue quando morremos. Não que ele não tenha motivos para se sentir na merda; basta ler a sua história e todos os azares pelos quais passou. Everett é um bluesman, e só poderia mesmo sê-lo.

As suas dores são o que dá origem corporal à sua própria musa, como tantas vezes aconteceu na música em séculos de arte. The Deconstruction não foge à regra; o primeiro álbum dos Eels, cuja única constante é Everett, surge após este ter pensado abandonar a música, após um casamento que deu em divórcio, e após o nascimento do seu primeiro filho, o que para algumas pessoas também pode constituir acendalha para nova depressão. Mas não é, de todo, um álbum triste. Na verdade, remexe nessa poeira até encontrar um foco de luz ao qual não só Everett, mas quem o escuta, se possa agarrar. É um álbum de desconstrução da mágoa e reconstrução em algo canonicamente mais belo.

Belo e eléctrico, porque Everett é um bluesman mas também é do rock n' roll. O tiro de partida é dado com a canção que dá nome ao álbum, mas logo a seguir há "Bone Dry", acusação de dedo em riste a alguém ou alguma, com ajuda de orquestra e guitarra suja: Can't give you more 'cause you took all of it, explica ele, quase em tom de desafio. Everett está na merda mas não é por isso que será o nosso capacho. A premonição, dois temas a seguir: You can kill or be killed / But the sun's gonna shine.

Diante da melancolia, fica sobretudo a sensação de que Everett e os Eels sabem bem que, apesar de tudo e recorrendo ao mantra de algumas claques de futebol, «só perdes se desistes de lutar». Uma lição que importa reter mesmo quando somos soterrados por uma avalanche. Lição essa bem dada através de óptimas canções que aliam cordas mais clássicas à crueza do blues, e que fica na ponta da língua com o quase-gospel de "You Are The Shining Light": Bounce back, you always do. Sim, sempre.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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