Que som faz uma máquina quando tenta emular a voz humana? De que forma verbaliza uma inteligência artificial aquilo em que pensa? Em que linguagem comunica? Talvez seja algo semelhante a "episode #1", a primeira faixa de Acousma Light, o novo álbum do lituano Gintas K. O título refere-se a música acusmática, um género de música que não tem fonte visível durante uma sessão de escuta ou um concerto - assim como as máquinas não têm boca.

Não têm, mas falam, recorrendo aos mais diversos sons, todos eles estranhos ao ouvido humano. Gorgolejos digitais, gritos sintetizados e graves, drones vários. Acousma Light tem, sabemo-lo, alguém por detrás da sua criação; mas não o vemos. Quem nos fala é o seu trabalho, os instrumentos com os quais realizou o seu trabalho. E a sensação que temos é a de estes que nos falam por iniciativa própria, como se o seu diálogo tivesse sido captado com um gravador, e não construído do nada.

Se nos falam, atentemos, procuremos compreendê-los por entre o caos noise aquático de "episode #3", por entre os murmúrios fantasmagóricos de "episode #5#, ou os guinchos brincalhões de "episode #7" - três capítulos de uma discussão com nove, no total, sobre os mais diversos temas. As máquinas já sabem falar; basta que tenhamos a delicadeza de as ouvir.