Uma guitarra idílica passeia-se por "Llama Ama Lama", afogada em reverb, a voz ecoando imperceptível e autofágica. É a primeira porta de entrada para este pôr-do-sol situado entre a urbe e o campo, após duas intros mais ou menos reveladoras sobre aquilo que poderemos esperar de Chinaskee. Influências, disse-o já em algumas entrevistas, oscilam entre o rock do século XXI - Strokes e Arctic Monkeys, por exemplo - até aos grandes valores do cançonetismo português de hoje, como Filipe Sambado e Luís Severo.

Mas são sobretudo os segundos quem paira sobre a música muito própria de Chinaskee, ou Miguel Gomes, como consta no Cartão de Cidadão. Em Trocadinhos Ao Pôr-Do-Mi, o músico apresenta-se sem os seus Camponeses, deixando que o rebanho - as canções - pastem solitárias pelo campo fora, mergulhadas na alienação muito própria de quem tem algo para dizer e pouca ou nenhuma técnica com a qual se deva preocupar. Traduzido por miúdos: pop de quarto, de baixa fidelidade, mais coração que cabeça. Há algum problema nisso? Não, lógico que não.

Chegados a "Remédios De Gente", a água lava alguma da poeira que assentava sobre a música. Aqui, percebemos a natureza auto-referencial da música de Chinaskee, com "trocadinhos" e trocadilhos: Ideias ideais para um isco / Os trocadinhos deste disco, canta ele. É a melhor faixa deste curto EP, uns poucos furos acima de "Tenho A Vista Curva", que mantém os mesmos moldes. Trocadinhos... é um disco bem conseguido, mas afigura-se demasiado curto para uma avaliação mais profunda. Se Chinaskee é melhor com banda ou sem ela, que o determinem os fãs.