DISCOS
The Underground Youth
What Kind Of Dystopian Hellhole Is This?
· 03 Abr 2017 · 09:16 ·
The Underground Youth
What Kind Of Dystopian Hellhole Is This?
2017
Fuzz Club Records


Sítios oficiais:
- The Underground Youth
- Fuzz Club Records
The Underground Youth
What Kind Of Dystopian Hellhole Is This?
2017
Fuzz Club Records


Sítios oficiais:
- The Underground Youth
- Fuzz Club Records
Não existe passado, só lixo.
Dos jornais só retiramos a miséria, a mentira e a merda, qual reflexo da sociedade para onde nos atiraram após tempos de relativa acalmia. Falta a música e a mudança, por muitos profetizada com a ascensão dos populismos ao poder, quanto mais não fosse através da oposição a esses mesmos populismos. Trump vai fazer o punk grande outra vez, pôde ler-se. O problema dessa opinião - que até nem tem estado tão equivocada quanto isso - é que a grande maioria daqueles que vivem neste mundo preferiam tê-lo, em vez de ser obrigados a lutar por ele.

Os Underground Youth pertencem a esta segunda categoria, mas nasceram da primeira. What Kind Of Dystopian Hellhole Is This? é uma acusação como tantas outras, frase batida e repetida até à exaustão desde tempos imemoriais. O próprio nome da banda submete para uma certa ideia de revolução, uma revolução que emane do passado para moldar o presente: a juventude é que está certa, o underground está certo, como sempre estiveram, como sempre foram odiados por o estar. O problema? Não passar disso mesmo: uma frase batida.

What Kind Of Dystopian Hellhole Is This? não apresenta quaisquer soluções: é apenas mais um grito de revolta surgido do fundo do poço. Mas o poço está cheio e é demasiado fundo; lá do alto, ninguém vos (nos) ouve. A reacção de nada serve se não for acompanhada pela acção - e os Underground Youth parecem mais predispostos a falar do que a fazer, a apatia contribuindo para o estado geral de coisas. Ou talvez esta visão da coisa seja demasiado pessimista. (De certeza que o é: isto é um inferno distópico. Nisso eles têm toda a razão.)

Se deixarmos o pessimismo e esta crítica à pacificação pelo slogan, ficamos no entanto perante um óptimo disco. O som, lá está, é antigo: pós-punk onde o negro liberta e alimenta. Fuzz com sabor a deserto perdido. Uma maior apetência pela procura do poema na letra do que vice-versa. "Half Poison, Half God", a abrir, toda ela minimalismo repartido por descargas de som momentâneas, a dinâmica quiet/loud a ditar as suas regras. A maravilhosa "Alice", fruto do amor e do seu fim, que quase parece um sonho bom no meio da lixeira. E a absolutamente gigante "You Made It Baby", blues do deserto conforme explicado pelo gótico Nick Cave.

A actualidade parece querer ensinar-nos de que o passado não existe; a merda de ontem é exactamente a mesma merda de hoje, sempre estivemos em guerra com a Eurásia e bombas por todo o mundo - as químicas e as financeiras - continuam a estropiar carradas de crianças. Repetimos os mesmos erros da mesma forma que os Underground Youth repetem fórmulas. Mas talvez as suas fórmulas, e repetimos, o reerguer de uma revolução anterior para os dias que correm, resultem desta feita. Aqui serviram para nos lembrar que o mundo é uma merda e que pode sempre haver um raio de luz na escuridão.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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