É uma melodia curta, um loop que vai progressivamente aumentando de velocidade, até encontrar um irmão gémeo nas teclas e, juntos, desaguarem numa voz processada, que ergue os braços e contempla a batida de sol no rosto; é "sink & sleep", primeira faixa de juno 1991, EP de estreia de Pedro Pissarra, músico almadense que viu na electrónica uma forma de meter cá para fora tudo aquilo que quer, criativamente, fazer. Falamos de "sink & sleep" porque é esse o cartão de visita de juno 1991: um som épico, carregado de imagens, progredindo da memória até ao tacteável, banda-sonora correndo vida adentro.

Vida, enquanto houver; é que, apesar do tom extático que permeia a música de strctrs, não conseguimos deixar de ver um tom apocalipticamente fatalista nos títulos destas canções, começando na própria "sink & sleep" (um sinal de desistência?), passando por "from up here it looks like the end of the world" (completo com ritmo marcial) e "protest young blood, protest) (uma chamada, talvez, às armas). Esses significados, claro, só ele os poderá confirmar - mas é bonito pensar que em juno 1991 está uma visão do que poderíamos ter se não fossemos, raça humana, um bando de broncos.

No final, o kanji dá azo a toda uma nova teoria: este é, na realidade, um EP sobre um amor que se perdeu. Um amor que foi como a vida, intenso e acelerado, que foi como o som, épico e melodioso, mas que no final se perdeu - restando não mais do que a melancolia e a dedicatória, escondida em língua estrangeira. Talvez seja esse o motivo que a leva, à canção, a arder em lume brando por entre as teclas e os sintetizadores. Ou o motivo pelo qual juno 1991 é, ao mesmo tempo, tão intrigante e tão satisfatório.