DISCOS
Alex Zhang Hungtai / David Maranha / Gabriel Ferrandini
Âncora
· 17 Jun 2016 · 11:58 ·
Alex Zhang Hungtai / David Maranha / Gabriel Ferrandini
Âncora
2016
Grain of Sound
Alex Zhang Hungtai / David Maranha / Gabriel Ferrandini
Âncora
2016
Grain of Sound
Novo mundo.
Sob o pseudónimo Dirty Beaches, Alex Zhang Hungtai editou entre 2007 e 2014 vários registos, com destaque para o excelente Badlands e os singles “True Blue” e “Lord Knows Best”. Entre canções arrastadas, Zhang Hungtai mostrava-se como crooner para o século XXI, recorrendo ao sampling, e gerara um certo culto. Mais recentemente, Zhang Hungtai já havia mostrado vontade de explorar diferentes mundos sonoros quando apresentou o espectáculo Landscapes in the Mist no Maria Matos (Abril de 2014), tendo na altura tocado apenas saxofone tenor e guitarra eléctrica.

Sem ligação prévia ao trabalho de Alex Zhang Hungtai, os portugueses David Maranha e Gabriel Ferrandini vêm desenvolvendo percursos sólidos entre a música experimental e a improvisada, trabalhando também em duo – editaram um LP A Fonte de Aretusa (Mazagran, 2011). Maranha e Ferrandini juntaram-se a Zhang Hungtai num trio, a partir de um convite da editora Blue Note para a criação de um filme para a Blogotèque, sendo escolhida uma figura do jazz como presença tutelar.

Com Alex Zhang Hungtai no saxofone tenor, David Maranha no órgão e Gabriel Ferrandini na bateria, o trio escolheu homenagear John Coltrane e o resultado desse primeiro encontro está disponível online. Após essa primeira colaboração o trio resolveu continuar com a parceria, actuando posteriormente no Teatro Maria Matos (Lisboa) e no Cafe OTO (Londres). Numa edição da regressada Grain of Sound, o disco Âncora apresenta o registo sonoro da actuação do trio em Londres, a 4 de Fevereiro de 2015.

O disco é constituído por apenas duas peças, longas, cada uma com cerca de vinte minutos e duração. O trio começa numa toada lenta arrastada, entrando primeiro a percussão subtil de Ferrandini e o órgão nebuloso de Maranha, para logo de seguida chegar o saxofone. Zhang Hungtai começa por soar algo coltraneano, com a malha a arrancar em modo lento. A intensidade vai crescendo, fomentada pelo saxofone, acompanhada pela bateria, num rebentamento de tensão enérgica.

No saxofone, Alex Zhang Hungtai vai trabalhando espirais, motivos repetidos de forma obsessiva; o órgão de Maranha, mais estático, vai sustentando a tensão; a bateria de Ferrandini não pára de alimentar a fornalha, mas lança também outras ideias. A música do trio vive sobretudo numa permanente tensão controlada, num lento crescendo. Neste disco Zhang Hungtai afasta-se do mundo sonoro de Dirty Beaches mas, com o apoio de Maranha e Ferrandini, abre-se a um novo mundo: o grandioso universo da improvisação aberta.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

Parceiros