DISCOS
Bloodiest
Bloodiest
· 07 Mar 2016 · 22:17 ·
Bloodiest
Bloodiest
2016
Relapse


Sítios oficiais:
- Bloodiest
- Relapse
Bloodiest
Bloodiest
2016
Relapse


Sítios oficiais:
- Bloodiest
- Relapse
A Roda da Miséria.
Imaginemos uma carroça a atravessar um pântano, sem que nada a detenha, ou a faça diminuir a velocidade. Mesmo que nunca entre em passo de corrida. Imaginemos que olhamos fixamente para a roda dessa carroça, até que os raios da mesma de desvanecem perante a nossa vista. Tudo se dissolve num único centro, excepto a paisagem em redor, que vai mudando consoante avançamos. O esforço necessário parece enorme, sobrehumano. E, no entanto, o verdadeiro “trabalho” vai sendo feito pelo ambiente circundante. Tudo isto para dizer que o segundo álbum dos Bloodiest, na reputadíssima editora das extremidades Relapse Records, beneficia e muito desse acumulação de estímulos. Tendo um centro de gravidade representado pela secção rítimica, permite à voz, guitarras, e ocasionais pianos, a veleidade de dançar ao redor desta. Nunca entrando em complexidades a la, por exemplo, Dillinger Escape Plan. E, igualmente, sem nunca perder um admirável sentido de coesão e harmonia.

Na música dos Bloodiest juntam-se campos bem conhecidos. A instrumental “Condition” lembra, por exemplo, uns Mogwai nos seus momentos mais pacíficos. E também aqui existe post-hardcore, não sendo por acaso que inclui um ex-90 Day Men, Só que não ficam por aqui, pois alguns gritos que ouvimos ao longo deste disco dir-se-ia virem direitinhos de um qualquer disco doom. E a acoplagem é feita de forma indolor. Não é uma vivisecção qualquer de costuras à vista. A banda progride como se a única coisa que interessasse fosse continuar a avançar. O seu som pouco tem a ver com a secura (nada contra) de uns Fugazi. É um som pesadíssimo e corpulento, em que cada instrumento parece fazer vibrar os outros. A voz passa por vários estados, sempre sem largar as rédeas.

Apesar da alta qualidade do disco na generalidade, não podia passar sem referir a excepcionalidade da segunda música. “The Widow” é das melhores coisas que já ouvi este ano, e ex-libris de tudo quanto disse para trás relativamente a ”Bloodiest”. Está, basicamente, tudo lá. Felizmente, o resto do disco fica-lhe pouco atrás. Cada música é o percurso pelo pântano anteriormente mencionado, em que no final ainda estamos a processar a informação que recebemos. Estamos ofuscados pelo sol? Estamos pedrados com os fogos-fátuos? Fomos atacados por criaturas estranhas? Seja qual for a verdadeira resposta, o estado é de elação. De tal forma que o mais honesto sera dizer “Pouco importa. Vamos dar outro passeio!”
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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