DISCOS
Kode 9
Nothing
· 15 Dez 2015 · 00:23 ·
Kode 9
Nothing
2015
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Kode 9
- Hyperdub
Kode 9
Nothing
2015
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Kode 9
- Hyperdub
Zeros e o Nada como ponto de princípio?
Steve Goodman, um homem que já acreditou ser possível aconchegar memórias do futuro, indaga agora no nevoeiro filosófico em que o Homem alcança tudo o que almeja em termos tecnológicos – tudo para lhe facilitar o dia – e pouco investe na explanação da sua essência. Nothing, o terceiro disco enquanto Kode 9, não é certamente um apelo à redenção da Humanidade face à sua obsessão pela tecnologia. Mas filosoficamente parece admitir que – sugerindo Zeros e Nada – se deve dar graças à incerteza, ao medo e desafio que ela ainda deve provocar no espírito humano.

Sem as palavras do cúmplice The Spaceape – poeta urbano falecido em 2014 – para traçar a narrativa, Goodman recorre à arma da produção para contar a história deste disco. Kode 9 mantém-se fiel ao seu estilo ao enviusar a sua bass-music com aquilo que a nova electrónica urbana vai parindo. Neste instante é com o footwork que compõe a manta sonora. É no frenesim de espasmos rítmicos do actual som de guetto de Chicago que encontra muito do modo de transmissão das suas ideias sobre a essência do Homem perante a incerteza da vida...

Apesar da tecnologia hoje quase garantir a eternidade da alma, a morte ainda é um facto físico. Algo que define o percurso da nossa existência. A memória que trespassa de pais para filhos é a genuína. Nunca a Memória da tecnologia que foi inventada para acumular dados e dados – muitos irrelevantes. O último tema do disco é certeiro no título: nada vive para sempre. Nós não vivemos para sempre. O disco começa com um ribombar épico a incitar à aventura; soa distópica mas convidativa. O alinhamento acaba no mais abandonado silêncio: naquele nada – o vazio – começa uma reflexão sobre o fim...?

Nothing apresenta-se como um eloquente discorrer filosófico instrumental. The Spaceape ecoa do além em “Third Ear Transmission” – um memorial. Isto é um disco pensado para forçar o pensar. É o Kode 9 que não tivemos em Black Sun. Não acerta em todos os temas; Room(s) (2011) de Machinedrum ganha hoje um maior simpático sentido.

Nothing tem momentos descarnados; ríspidos no experimental; pragmáticos – mas tem o condão de provocar, tal como fez em 2005 – subtraído-se agora o poder narcótico do dub. Estamos perante uma obra intrincada que, para ser absorvida, exige algum batalhar. Nothing é um dos complicados de 2015. Mas é pela incerteza, pela ambiguidade que aqui pulula, que se sabe haver vida...
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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