DISCOS
Dâm-Funk
Invite The Light
· 04 Nov 2015 · 21:22 ·
Dâm-Funk
Invite The Light
2015
Stones Throw


Sítios oficiais:
- Stones Throw
Dâm-Funk
Invite The Light
2015
Stones Throw


Sítios oficiais:
- Stones Throw
Circuitos Integradores.
O mundo do synth-funk é já de si um mundo com muito de fascinante. Fascinante na medida em que se apodera das potencialidades dos muitos teclados e sintetizadores à disposição, e lhes injecta os virus que os transformam em impiedosas máquinas de sedução. Quer carnal, quer dançarina, ou mesmo para a mais pura contemplação cósmica. É um mundo sobre o qual, por agora, tudo o que sei se resume a YouTubes de gente como Zapp & Roger Troutman e Cameo, e, felizmente, a dois álbuns com que Dâm-Funk nos presenteou recentemente. ”Toeachizown” (2009). E agora este ”Invite The Light”. Vindo este último mostrar que Damon Riddick tem muito mais para oferecer do que ser um fétiche passageiro.

Se o synth-funk é um género musical de som inconfundível, também é verdade que há gente na música cujo som parece não vir de uma interacção entre dedos e cordas/teclas/etc, e sim de um encantamento, só deles conhecido, que permite, por alguns minutos, vislumbrar um contínuo sonoro. Existem – ou existiram - xamãs assim em áreas como o metal (Sunn O)))), ou os blues malianos (Ali Farka Toure). Se bem que Dâm-Funk não está, tudo somado, ao nível de tais monstros, é certo que tem várias situações em que, mais do que a carregar em teclas, imaginamo-lo junto a um parente não descoberto do theremin, a extrair dele os sons gordurosos (no bom sentido) e encorpados que formam as suas músicas. Quer sejam tons graves a lembrar o baixo de Bootsy Collins nos Funkadelic, ou menos graves, a deslizar como gel de banho por entre os dedos.

”Invite The Light” é um disco que não se coíbe de construir canções (“We Continue”, ou a maravilhosa e mui californiana “Glyde 2nyte”), espasmos rítmicos (“HowUGonFuckAroundAndChooseABusta), cinema de suspense/acção (“Surveillance Escape”), ou simplesmente flutuar e esperar que os sons benignos que saem das colunas nos alarguem horizontes durante longos e prazerosos minutos (“O.B.E.”, “Floating On Air”). Há convidados, entre os quais gente ilustre como Flea, Q-Tip, e Snoop Dogg. Mas é apenas um pormenor. O disco pertence a Damon Riddick, e não fora a sua magia, e visão de um mundo onde se anda sempre de descapotável ao cair da tarde, percorrendo estradas sem destino, e sem propósito que não o de ser enfeitiçado por este, é hora de dizê-lo novamente, funk, e ”Invite The Light” nunca poderia ser tão bom. As boas-vindas já estão dadas na perfeição. A estrada vai até onde cada um quiser.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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