DISCOS
António Chaparreiro & alçada
Opus Macaronicorum
· 20 Out 2015 · 14:41 ·
António Chaparreiro & alçada
Opus Macaronicorum
2015
Creative Sources


Sítios oficiais:
- Creative Sources
António Chaparreiro & alçada
Opus Macaronicorum
2015
Creative Sources


Sítios oficiais:
- Creative Sources
Improvisação descarnada.
Antes de mais, saúde-se o magnífico trabalho da editora que acaba de publicar este disco. Registado na lombada como “CS299”, este lançamento representa a 299ª edição da label Creative Sources, fundada e sedimentada por Ernesto Rodrigues ao longo da última década e meia. Três centenas de gravações de música improvisada, juntando muitos músicos portugueses e alguns grandes nomes da cena internacional, merecem justamente a celebração. E merece um aplauso especial por se tratar de uma música muito específica, sem apelo comercial. Ao longo de todos estes anos a Creative Sources tem apresentado um trabalho sério de edição regular, com qualidade e coerência estética. Trata-se de improvisação pura, com ênfase na vertente reducionista, mas não só: o catálogo vai da improvisação mais abstracta até às fronteiras do jazz.

Neste disco CS299 encontramos a estreia de um duo inédito: António Chaparreiro e alçada, um duo de guitarra e percussão (e outros instrumentos e objectos). Esta dupla apresentou-se ao vivo no festival denominado “Quando os lobos uivam”, que teve lugar em Junho de 2013 na Livraria Sá da Costa, assinalando o 100º aniversário do espaço. Gravado pouco tempo depois dessa actuação, este disco capta a energia registada nessa actuação ao vivo.

Chaparreiro é um guitarrista original, envolvido na cena improvisada lisboeta há mais de dez anos. Tem participado em diversas formações e gravações, com basto material documentado na editora Creative Sources. Multi-instrumentista, da guitarra à percussão, alçada (designação artística de Pedro Alçada) foi um dos programadores do ciclo “Sábaduos”, que teve lugar no bar A Vizinha, na Bica, em Lisboa - que teve um papel fundamental na dinamização da cena improv nacional, apresentando duos improváveis.

O título do disco que marca a apresentação ao mundo desta dupla cita directamente a obra do poeta italiano Teofilo Folengo (1491-1544), que trabalhou poesia “macarrónica”, uma original poesia cómica que cruzava línguas (latim, italiano e dialectos locais). Tal como na obra histórica do italiano, também esta música interlaça diferentes linguagens: o discurso expansivo da guitarra de Chaparreiro cruza-se com a percussão variada e imprevisível de alçada, num diálogo que se deseja comunicante.

Neste disco encontra-se um conjunto de peças breves, treze temas distribuídos em pouco mais de meia hora. A guitarra de Caparreiro vai do rock, ao noise (logo na segunda faixa) até se aproximar Derek Bailey (e estaremos a exagerar se dissermos que ouvirmos um eco de Frampton naquele lamaçal de efeitos?). A bateria ora tem um papel pesado, acentuando um papel rítmico, ora sussurra texturas, mais subtil. Atravessando diversos registos, esta é uma música descarnada e, sobretudo, inesperada.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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