DISCOS
The Weeknd
Beauty Behind The Madness
· 01 Out 2015 · 10:23 ·
The Weeknd
Beauty Behind The Madness
2015
Republic


Sítios oficiais:
- The Weeknd
- Republic
The Weeknd
Beauty Behind The Madness
2015
Republic


Sítios oficiais:
- The Weeknd
- Republic
Ectoplasma solidificado.
Primeiro ouviu-se uma voz sem cara a corresponder-lhe. Uma voz que dizia ”You wanna be high for this”, estabelecendo desde logo um universo em que o sexo, as drogas, e a conjugação dos dois eram as temáticas preferidas. Depois apareceu uma figura, um nome a ligar ao pseudónimo The Weeknd. A figura de Abel Tesfaye. Olhar frágil, assombrado, como que a avançar timidamente em i>direcção às luzes da ribalta. Vieram os palcos de concertos, um álbum (Kiss Land), colaborações com gente diversa. A figura foi ganhando espessura, proporcionou debate, reflexão. Raramente indiferença. Por fim, em 2015, a “aparição” parece ter solidificado. E qual é o seu primeiro passo? O da conquista do estrelato pop, obviamente.

Não há qualquer dúvida quanto ao ultimo ponto do parágrafo anterior. Beauty Behind The Madness é o disco em que Abel “The Weeknd” Tesfaye aposta tudo em moldar uma pop em que os seus traços identitários não fiquem irremediavelmente esbatidos. O sucesso de músicas como “Earned It”, “The Hills” ou “Can’t Feel My Face” servem como prova marketeira de que o plano está a resultar na perfeição. E, felizmente, servem também como prova do imenso talento de The Weeknd. A sua voz melíflua, mesmo – ou sobretudo – quando canta sobre sexo sem significado (Javier Bardem, em Vicky Christina Barcelona, diria que isso é sinal de baixa auto-estima), faz-nos ver nele o filho bastardo de Michael Jackson. Aquele que teve a infância, adolescência, e início de idade adulta que o seu “pai” nunca teve. Para quem “inocência” é um conceito há muito esquecido, completamente submergido pela lascívia.

É impressionante a maneira como Tesfaye faz as melodias cirandar em volta das produções, como o vapor sintético do seu velho companheiro de armas Illangelo, ou mesmo o lado mais "tradicional" de drops e techno de um produtor uber-pop como Max Martin. Veja-se “Often”, produzida por Ben Billions. Tesfaye agita os colarinhos da dita melodia, sacode-a no meio de batidas em surdina, expreme-a até ao tutano. A sua voz é como a produção de Timbaland para “My Love” de Justin Timberlake. Sabemos que nos vai levar a um refrão que se vai colar aos ouvidos. Só não sabemos como é que não derrapa. “Can’t Feel My Face” é funk-pop sobre cocaína, para dançar alegremente. “The Hills” fascina com um trap ao ralenti, e Tesfaye como em “Why’d You Only Call Me When You’re High”, dos Arctic Monkeys. Só que aqui é ele que faz a pergunta. “Prisioner”, com outro astro único da pop – Lana Del Rey – mete falsetes esborratados de batom, metidos no meio de um mini-tornado.

Talvez Ed Sheeran, em “Dark Times”, esteja a mais no disco. Nada sério, ao fim e ao cabo. Beauty Behind The Madness mostra que havia muito mais do que R&B ectoplásmico no rol de talentos de The Weeknd. Ele não nada simplesmente na pop. Ele abre caminho por entre ela, escolhendo o que usar, como um decorador de interiores escolhe mobílias. Joga com a tensão das suas temáticas, sabendo exactamente quando a comprimir, e quando a expandir. O estado sólido fica-lhe a matar.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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