DISCOS
Dr. Dre
Compton
· 28 Set 2015 · 21:53 ·
Dr. Dre
Compton
2015
Interscope / Aftermath


Sítios oficiais:
- Interscope
- Aftermath
Dr. Dre
Compton
2015
Interscope / Aftermath


Sítios oficiais:
- Interscope
- Aftermath
A Terceira Revelação.
Dr. Dre tinha um plano. Chamava-se Detox, e dizia-se que iria reinventar a roda. Ao contrário de Chinese Democracy, mbv ou Blade Of The Ronin, nunca chegou, nem chegará, a sair. Em vez disso, Dr. Dre prefere fechar o seu historial como autor de discos em nome próprio com Compton. Não reinventou a roda. Já o tinha feito antes. Aqui, precisou apenas de construir e apresentar ao mundo um modelo de roda de altíssimo gabarito. Um trabalho de precisão, qual conjunto de peças de diversos tamanhos e feitios, que encaixam como relojoaria fina. De aderência ao piso a toda a prova, independentemente das curvas, travagens ou acelerações a que se proponha.

O que faz Dre em Compton? Tal como em The Chronic e em 2001, há músicas em que ele nem sequer participa como MC, e outras em que apenas divide a produção com outros nomes. Dir-se-ia que Dre é um aglutinador. Uma figura que cataliza talento e criatividade em torno de si. Aqui essas características vêm quer de nomes de sempre (Snoop Dogg, Xzibit, Eminem), novas-futuras lendas (Kendrick Lamar), cantoras soul (Jill Scott, Marsha Ambrosius), e nomes emergentes como Anderson .Paak, que aparece numa série de faixas, ou BJ The Chicago Kid. E não há um único destes convidados que pareça ter gravado os versos entre duas passas. Há empenho, dedicação, vontade de comunicar. E a comunicação, em Compton tanto pode vir sob a forma de balanço de carreira e auto-consagração da parte de Dre, ou secundada por todos os seus lugar-tenentes. Ou pode viajar facilmente entre o social e o gangsta (por acaso The Game consegue fazer outra coisa que não gangsta?). Dre já não é o mesmo de “Nuthin’ But A G Thang” ou “Let Me Ride”. É um multimilionário, e dono de um império. Como tal, sabe posicionar-se, e manter a credibilidade.

Mas o que torna Compton realmente impressionante é a sua grandiosidade. O G-Funk de The Chronic, e os avanços digitais de 2001 são apenas pequenos flashes que espelham a evolução que levou Dre até aqui. Tal como o são o boom-bap, o trap, a grandiosidade orquestral, e mais uns quantos. É o disco menos directo de Dre, é certo. Não há aqui um single claro como “Forgot About Dre.”. Há, como já foi dito, muitos cortes repentinos, muitas músicas que passam por diferentes estados entre o princípio e o fim. Não se julgue é que Compton é um álbum desconexo. Os refrões estão bem nítidos, e nada parece ter sido um passo maior que a perna. Em vez de obesidade, encontramos luxo e riqueza. Em vez dos Muse, encontramos os Pink Floyd.

Faltam duas coisas em Compton: Remover o verso sobre violações de Eminem (cresce, pá!), e a inconfundível voz do falecido Nate Dogg. E falta lembrar que, quando The Chronic apareceu em 1992, algumas vozes quiseram convencer-nos que estavam a destruír o hiphop. O tempo fez justiça, enquanto essas vozes continuam a chorar agarradas à sua cópia de 3 Feet High And Rising (grande disco, atenção). Daqui a 23 anos, se a promessa for séria, não estaremos a ouvir novo disco de Dr. Dre. Mas lembrar-nos-emos sempre de um doutor que tocou 3 vezes, e de cada vez entregou nova receita para estimular as nossas vidas. O panteão dá-lhe as boas-vindas.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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