DISCOS
Chibazqui
Planos Para O Futuro
· 25 Set 2015 · 11:06 ·
Chibazqui
Planos Para O Futuro
2015
NOS Discos


Sítios oficiais:
- NOS Discos
Chibazqui
Planos Para O Futuro
2015
NOS Discos


Sítios oficiais:
- NOS Discos
Ler (e ouvir) até ao fim.
Torna-se difícil escrever sobre uma banda quando a mesma, nas suas fileiras, conta com um dos seres mais desprezíveis, abjectos e infames que a cena rock nacional alguma vez viu, ela que já viu tanta coisa; um homem, agá minúsculo, tão repelente e asqueroso que o vómito vem à boca em golfadas, como naquela cena do Family Guy em que os homens e cão da família decidem apostar para ver quem consegue resistir mais tempo após uns goles de xarope de ipecacuanha; um verme vagabundo, cujo rastejo nem podemos parar com a sola do sapato sob pena de nos corroer até ao osso, tal é o ácido que corre naquelas entranhas. Falo, claro está, do Diego Armés.

Provavelmente este primeiro parágrafo intrigar-vos-à, questionar-se-ão, muito provavelmente, sobre se a pessoa em questão e a minha terão algum problema grave por sanar. A resposta é simples, é curta, e é negativa. Que me leva, então, a ser tão corrosivo nas minhas palavras? Será que Diego Armés comeu a minha namorada? Não, não o fez. Esmurrou-me, pegou-se comigo, insultou-me - cara a cara ou virtualmente - em algum ponto da minha vida? Nada disso, até já me elogiou um texto, uma vez (um muito parecido com este, curiosamente: muita punheta e nada de avaliação musical). É daqueles tipos que não nos cumprimenta quando passa por nós na rua? Pelo contrário; esse sou eu, que sou distraído. Armés sai à noite e não paga finos? Bem, nunca saí à noite com Armés, por isso não sei dizer, mas estou disponível para que ele me pague finos.

Se o tom das palavras não parte de algo pessoal, parte, então, de onde? É Diego Armés um mau músico, tendo eu que salientar, de antemão, que os Feromona foram (são) uma das dez bandas de rock em português mais importantes de sempre e que este mesmo trabalho em Chibazqui (para quem não sabe é uma referência a Bukowski) está para lá de bom? É Diego Armés antipático quando não está ninguém a olhar para ele, porque há que manter aparências de estrela rock underground, o que é na realidade mentira porque Diego Armés é um tipo bastante porreiro, opinião que qualquer pessoa que o conhece poderá corroborar? O aspecto físico de Diego Armés, repugna?, tendo eu consciência de que ele na verdade é bem gato e que se eu fosse gaja não desdenhava? Votará Diego Armés no PNR? (credo, não, que nojo.)

O único motivo para odiar tanto Diego Armés, como eu o odeio neste momento e com todo o meu coração, a única razão que existe acima de qualquer outra razão é esta: Diego Armés é benfiquista ferrenho. Não se pode senão detestar um benfiquista ferrenho, ainda para mais em semana pós-clássico que, como é natural, correu melhor para o meu lado que para o dele. E odeia-se ainda mais um benfiquista ferrenho porque, apesar desse defeito gigantesco, dessa bolha redonda na sua alma, ele - juntamente com outras três pessoas maravilhosas, mas este texto não é sobre elas, é sobretudo sobre ele e a minha pseudo-tentativa de piada - fez um disco do caralho. E, lá está, assim sendo é muito difícil escrever sobre ele; fosse este um álbum de chacha e ficaria tudo bem, se calhar até nem havia "crítica", seguiria cada um para seu lado e ficava tudo bem. Mas não, o valente filho da mãe tinha mesmo de compor um disco brilhante, em jeitinho pop/rock delicioso, daqueles que ficam nos ouvidos e na cabeça durante horas. Raios o partam!

Tendo em conta que este texto está a ser escrito à noite e que amanhã é sexta-feira, prenúncio de fim do mundo, o que mais posso fazer neste momento é respirar um bocado, soltar a ira que me corre nas veias numa enorme nuvem fumegante e ignorar que o Armés existe enquanto inimigo figadal, passando a adoptá-lo enquanto líder não anunciado (ou será que o foi? não sei, não leio entrevistas nem biografias) dos Chibazqui, a banda que, com Planos Para O Futuro, fez um disco que me faz acreditar nas maravilhas de um verão passado à beira-mar de cocktail na mão, por oposição a duas dúzias de lenços de papel para limpar o suor da fronte. Aliás, até pode ser um disco para um outono passado numa esplanada, completamente encasacado, de chocolate quente na mão. Vale para todas as estações, porque é assim danado de bom, seja eu um elefante ou um micróbio (aquela ginga, caraças), uma ex-namorada ou um Diogo, que é a melhor canção do disco ainda que algo egocêntrica no bom e cómico sentido e que eu tive que uploadar para o Youtube porque a partir do website da NOS Discos não dá para a partilhar, solitária, no Facebook. O que me vale - e de forma a ignorar as marcas que se me surgiram na pele após elogiar o trabalho de um, argh, benfiquista - é que a dada altura, na "Sete Damas", ele canta algo como isto: de repente fica tudo azul..., que parece uma espécie de prenúncio para aquilo que se passou no domingo passado. Aliás, deverá ser esse o seu castigo: ver, em loop, até os olhos sangrarem, aquela corrida do André André rumo às bancadas, antes que surja no ecrã um gordo seboso com uma t-shirt de Atila a elevar bem alto o seu cachecol recém-comprado. Pois quem faz com que um tipo se humilhe desta forma, quem obriga alguém a tecer loas e loas ao seu pior adversário porque a qualidade do seu trabalho é de facto assombrosa, não merece senão ser castigado. Sacana do Armés, pá!
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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