Poderá ser apenas o segundo disco de originais. Mas este senhor em nenhum aspecto está a viver a segunda vida. Aliás, como um gato, Dennis McFarlane está a viver mais uma vida. E nesta – sexta, sétima, ou tanto faz – justifica porque está vivo. Desde 1989 dedica-se à arte. É uma espécie de alquimista. A grande obra continua ao lado de Marc Mac nos 4 Hero (a inteligência do projecto definiu a linguagem mais estimulante do Drum n’Bass (Two Pages), e ainda ajudou a estipular os princípios do Broken Beat (Creating-Patterns).

Enquanto o icónico grupo anda por aí, Dego, como artista, existe. E continua determinado a dar forma ao que o apaixona. O Broken Beat nunca foi um fenómeno para as massas. Volvido o ano de 1999, em que The Future Aint The Same As It Used 2 B dos Neon-Phusion foi lançado como montra de novos pensadores Afro-Funk-Beat-Soul, o género tem sido gerido por uma pequena elite que sabe o que está a fazer – pequena mesmo! E que não quer saber de modas, de géneros. Só quer saber de um estado de alma.

O aspecto sincopado do ritmo foi o que o baptizou de broken – mas de estragado o groove nada tinha, ou tem (e nada daquilo foi mera programação sem alma). Nos intervalos dos beats, abatem-se memórias depuradas: o baixo consegue recuperar o espírito do Funk ou do Jazz; os sintetizadores recuperam o Electro, desafiando-o para a improvisação; a melodia, no seu todo, com vocalizações concentradas, reverencia o ideal de Sun-Ra. E algures, no meio deste feliz entulho, há o vibe do Afro-beat... É tudo enviesado. Torto. Mas orgânico.

O Broken Beat é hoje o que era há dez anos. O género não levantou voo à procura de novas soluções. Não porque esteja esgotado. Mas porque, apesar das “incríveis” novidades que andam por ai, é um género que ainda está em estado bruto, um de que ninguém quis, ou quer saber! Broken Beat, ao fim de quinze anos, mantém um estado de pureza. Há um grupinho de ideólogos – uma família num canto de Londres – que anda por aí. Dego vai divertindo-se, encontrando prazer a fazer a sua música, que não sendo nova, jamais poderemos acusar de datada.

Daqui a dez anos, Dego poderá estar fazer o mesmo e o prazer de o ouvir provavelmente será idêntico. Este cantinho é intocável. Único. Ecléctico. Só para quem gosta de fantasmagóricas conjugações groove. Quem gosta não é tolo. Isto não é apenas mais do mesmo. A coisa funciona porque há sempre amor a operar – amor de família. Não estranhemos o título deste disco, The More Things Stay The Same mais vamos gostando…