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Welcome1
Staff Only
· 15 Jul 2015 · 14:42 ·
Welcome1
Staff Only
2015
Business Casual
Welcome1
Staff Only
2015
Business Casual
Vaporjazz.
Tendo crescido nos anos 90, por entre a tecnologia, as televendas e os primeiros passos da world wide web, é difícil não sentir uma pontinha de apreço pela estética vaporwave, em que o mundo nos parece um gigantesco anúncio, repleto de muzak que nos acalme o espírito e nos abra as carteiras em busca de um produto que, garantem, irá resolver todos os problemas da nossa vida. É uma experiência um tanto ou quanto fetichista; na vida real, criticamos a globalização e o consumismo; escutando as oferendas do género, atiramo-nos de cabeça e afogamo-nos por entre o mar de sons simplistas.

Se é verdade que um estilo musical cujo único apelo é o transvestismo e uma crítica tão dissimulada que quase nem parece crítica - sendo ao mesmo tempo um género que vale muito mais pelo que supostamente diz do que por aquilo a que soa - não poderia nunca ter um tempo longo de vida, também é verdade que todas as semanas brotam novos discos com as mesmas capas, os mesmos samples, as mesmas mensagens, num loop contínuo da mesma informação. Há que dar os parabéns à vaporwave por isso, por ter conseguido manter-se mais ou menos relevante dentro do mar gigante de música do século XXI. O que também significa que em breve nos iremos fartar e então, dentro de dez anos, alguém irá percorrer um qualquer web archive e criar algo que evoque as memórias dos anos 90 através das memórias dos anos 10...

Mas agora entra em cena o álbum de Welcome1, Staff Only, cujas bases não são simplesmente a musiquinha de anúncios e call centers mas também o jazz mais suave, tudo misturado com beats e uma força que nos dá a entender que, dentro da vaporwave mais chapada, há quem já esteja a tentar subir o próximo degrau na escala evolutiva. A fazer lembrar as experiências de FaltyDL e outros produtores da nova vaga, Staff Only ganha aos pontos aos seus pares porque não cedeu à tentação de se embrenhar na aura consumista; ao invés, torceu-a e distorceu-a até algo quase irreconhecível - a paródia da paródia, que no fundo dos fundos deve ser a verdade. A sério, vaporwave com nu jazz? Quem se teria lembrado de tal coisa?
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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