DISCOS
Jamie XX
In Colour
· 08 Jun 2015 · 17:36 ·
Jamie XX
In Colour
2015
Young Turks


Sítios oficiais:
- Jamie XX
- Young Turks
Jamie XX
In Colour
2015
Young Turks


Sítios oficiais:
- Jamie XX
- Young Turks
Uma aventura a meio caminho do amanhã maravilhoso.
Não fará sentido condenar quem quer que seja por almejar a diferença, especialmente quando se mostra empenhado em desenvolver uma linguagem própria. Num mundo como o nosso em que todos se imitam impunemente, em que o facilitismo é amiúde premiado em vez repreendido, a banalidade glorificada, deverá o melómano sério dar o passo em frente para sublinhar o que de peculiar se faz, de esclarecer aos acinzentados – mesmerizados por artificialidades – que a música subsiste porque vive da especulação, de contrastes entre o pragmatismo e a emoção. Vive da dualidade daquele artista, da luta interior do criador que genuinamente quer dar algo de novo ao mundo em vez de regurgitar maneirismos alheios.

Considerando: Jamie XX é um jovem talento. Indiscutível, para mim e para muitos. Granjeou nestes últimos anos merecidos elogios, tanto pelos préstimos amigáveis nos The XX, na postura profissional nas manobras sonoras em torno da majestosa personalidade de Gil Scott-Heron, nas experiências solitárias, ou nas reviravoltas na arte da remistura (uma escola criativa quem tem vindo a perder fulgor nos últimos anos).

Não sendo – presumo – a derradeira prioridade de Jamie Smith marcar o mundo da Pop deste novo milénio com preeminência arrogante, havendo, sim, uma honesta preocupação em gerar valor especulativo positivo, erguer uma linguagem de autor capaz de se distinguir dos demais, uma questão se ergue neste momento da apresentação ao mundo desta obra seminal de originais: porque motivo há uma exposição tão retroactiva em In Colour?

Desde já risque-se da lista o que vem à mente de muitos ao ler a questão do último paragrafo: não se trata de desilusão pelo excesso de ansiedade. Há pragmatismo aqui. Simpatizando com a obra geral de Jamie, admito que nunca foi produtor que me tenha despertado tão maciça reverência. Mas tendo minimamente acompanhado o trabalho do produtor inglês nos últimos anos, e deparando-me com este momento específico, mantém-se a questão que me leva a considerar este disco de estreia como uma semi-desilusão.

Bem dita a coisa, In Colour é um disco de ideias, recheado de momentos envolventes, munido de retratos nostálgicos em que reminiscências Breakbeat dos inícios de 90, Garage londrino, Ragga, o tropicalismo tórrido do steel drums, a Pop sonhadora, e algum fascínio (excessivo?) com o passado recente de Four Tet (que colabora pelo menos em dois temas), erguem um entendimento estilístico coerente. Ressalvo que são esses os elementos estimulantes. No entanto, nunca havendo neste disco uma degeneração da “marca” sonora de Jamie XX, também não existe uma mais-valia que a eleve a novo patamar.

É um disco interessante. Merecedor de uma generosa visita – quanto mais não seja para ouvir e reouvir “Loud Places”, uma das mais majestosas canções deste ano. Mas para que não hajam ilusões, e devidamente escrutinado, In Colour padece da falta de alguns pozinhos mágicos. Não é inconsequente, mas também não é o desabotoar de algo absolutamente singular – não há aqui nada com carácter de clássico. Talvez cortando de vez o cordão umbilical com os restantes XX Jamie resolva em definitivo o problema da sua aventura pessoal, que para já é meia cumprida.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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