DISCOS
Ermo
Amor Vezes Quatro EP
· 24 Mar 2015 · 14:30 ·
Ermo
Amor Vezes Quatro EP
2015
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- Ermo
Ermo
Amor Vezes Quatro EP
2015
Ed. de Autor


Sítios oficiais:
- Ermo
A crítica da paixão.
passado o choque inicial
voltas a sentar-te ao computador porque
há notícias que precisam de ser redigidas
e as pessoas têm que saber do fim
dos Sabbath e da autobiografia do Johnny Marr
enquanto a morte leva os teus amigos e
pela redacção o grito se dissipa (a morte
enquanto instrumento de trabalho e
enquanto produto comercializável: já o Debord
a isso fazia alusão) - amanhã é um novo dia e
 
o teu coração volta a ser Ermo como tem sido - praticamente -
desde a "Destronado" que nunca mais tocaram e desde
aquele concerto no Musicbox, ou
aquele incêndio no Musicbox em que o António parecia
possuído por uma força misteriosa sendo que misterioso
é tudo aquilo que chamamos ao que não
podemos compreender - dois miúdos a fazer a
melhor música portuguesa dos últimos dez
ou trinta ou cinquenta anos e porque não sempre? quando
se ama exagera-se ou não seria amar
 
(mas de que
nos vale a vida sem poder amar? caralhos os fodam,
sabem sempre como lixar um gajo) quando se ama
anda-se de braço dado com a loucura e com a morte sem
a qual não se escreve nem uma coisa nem outra
e ao mesmo tempo tudo se escreve e
todos os poemas do Herberto se escreveram
e todas as canções dos Ermo se reescrevem desta
feita: vezes quatro. já que são quatro as canções
e quatro ao todo as paixões e
uma delas verdadeira - faria tudo outra vez
(quem não, quem não)
 
[vais odiar esta crítica é daquelas pseudo]
(quem nunca foi pseudo que atire a primeira pedra)
(quem nunca se chocou com a morte de alguém
que o acompanha desde o bê-à-bá que
dispare a primeira bala)
mas é sincera - julgo eu - porque são sinceros os versos
vezes quatro e é sincera aquela toada
downtempo da "Fado Teu" que
em situações normais ou
num país onde não nos morressem os poetas
passaria na rádio e em bares e na assembleia da república e
inspirar-nos-ia a todos a encetar
algo de muito grandioso como
(sei lá)
 
encarnar Sebastião e tomar de assalto o mundo - já que julgo
que neste EP o nevoeiro do primeiro se dissipa por
completo e os Ermo não são só um "valor seguro" - que
nunca foram: foram sempre certos e enormes e poetas e
depois da manhã de hoje resta rezar para que nunca morram
e que continuem
para sempre
a brincar neste "Recreio" electrónico-poético: two-man army
de salvação nacional onde será
sempre
um prazer foder o que Deus quer
e fazer o que Deus quer e
escrever o que Deus quer seja como homenagem ou
memória à alma de quem -
tal como os minhotos, uma ponte enorme do
Funchal a Braga - também distorceu a linha que
separa o sagrado do profano
 
(que, convenhamos, não é tão ténue
quanto isso) e que
sobretudo
através do dom da palavra que se ama sobre quem se ama
entra que nem a violência coração (ermo) adentro e desfaz
a noção de Homem que se tem a noção de Amor que se tem
resumindo: Herberto era Ermo antes dos Ermo serem Ermo e dos
Ermo só há a esperar que num dia
longínquo - o mais -
alguém entre numa redacção e atire
"morreu o António"
"morreu o Bernardo"
e as máquinas parem e haja gente que chora quase
- "eram os maiores músicos portugueses vivos" -
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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