DISCOS
Tobias Jesso Jr
Goon
· 17 Mar 2015 · 17:30 ·
Tobias Jesso Jr
Goon
2015
True Panther Sounds


Sítios oficiais:
- Tobias Jesso Jr
- True Panther Sounds
Tobias Jesso Jr
Goon
2015
True Panther Sounds


Sítios oficiais:
- Tobias Jesso Jr
- True Panther Sounds
Superfície sem detritos.
Goon, quer o disco, quer a sua foto de capa, parecem menos um álbum de canções melancólicas do que um anúncio de champô. Veja-se o ar “sensível” de Tobias Jesso Jr que olha para nós, com o seu cabelo encaracolado, e eficazmente semi-desgrenhado, da dita capa. Veja-se a limpeza, as superfícies brilhantes, sem um grão de sujidade, dos pianos, e restante instrumentação que compõem as músicas. Ouça-se o tom suave, esbranquiçado, livre de caspa, perfeito para montagens em comédias românticas, das vocalizações. Só falta dizer: “Também tu podes ser como o Tobias. Basta usares o novo…”.

Problemas? Bom, sim. Além desta limpeza asséptica, as canções de “Ela deixou-me” de Goon limitam-se a aflorar o superficial. Sim, é muito chato ela tê-lo deixado, e ele sentir-se muito triste. Mas que mais? Que exame de uma relação em desagregação temos aqui? Ouvimos os sintomas, as consequências muito ao de leve. O resto, fica para adivinharmos. Compare-se, por exemplo, com o recente The Take Off And Landing Of Everything, dos Elbow. Também ele criado e escrito após o fim de uma relação amorosa. A riqueza melódica e lírica de Guy Garvey está de tal forma para lá da de Tobias Jesso Jr, que colocar um ao lado do outro expõe impiedosamente as limitações deste ultimo. Entretanto, musicalmente, os nomes que por aqui passam são sobretudo artistas da pop AM dos anos 70. John Lennon, Paul McCartney e os seus Wings, Elton John, etc. “Can We Still Be Friends” lembra “Jealous Guy”, de John Lennon. Alguém tem “Jealous Guy” como exemplo máximo das capacidades do homem que escreveu “Norwegian Wood”, “Strawberry Fields Forever”, ou “Tomorrow Never Knows”? “Without You” (resumo: não posso viver sem ti) começa lenta, talvez a prometer um Tom Waits. Só que a voz anula logo tais pretensões. É Elliott Smith de Figure 8, apenas perfeito para ser um modelo de roupa estilosa para o que quer que signifique indie em 2015.

Aliás, evitem-se confusões. Goon é um disco de pop adulta melancólica. Um campo onde os nomes que já foram aqui mencionados, e outros como Rufus Wainwright, Ed Harcourt ou Andrew Bird, fizeram trabalhos mais desenvoltos, complexos, e recompensadores em termos de melodia, letras, arranjos, e tudo e tudo. De certeza que com menos ”baby", isso é garantido. ”Bad Words” até tem uma melodia afundada a lembrar Mark “Sparklehorse” Linkous. Mas é pura ilusão auditiva. Linkous, em “Vivadixiesubmarinetransmissionplot”, soava a alguém que cantava porque não tinha para onde se virar. Jesso soa a alguém que sabe muito bem que está a ser visto e ouvido. Os silêncios em canções como “Hollywood” irão, muito provavelmente, causar gritos de histeria entre os fãs, durante os concertos. Muita Hollywood é mesmo isso, afinal de contas. Esquecer e/ou simplificar as complexidades da vida.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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