DISCOS
Gala Drop
II
· 11 Dez 2014 · 23:00 ·
Gala Drop
II
2014
Golf Channel


Sítios oficiais:
- Gala Drop
- Golf Channel
Gala Drop
II
2014
Golf Channel


Sítios oficiais:
- Gala Drop
- Golf Channel
Às vezes ganha-se. Outras, perde-se.
Ao contrário do disco de 2008, um monumento por inteiro, único, integro, místico porque se oferecia ao mundo de braços abertos para ser uma arte fantasiosa agraciada pela genuinidade de um momento ascético, II é uma figura de ambivalência que quer abraços, mas nem sempre os merece! Não porque seja mau. Não porque a música seja inconsequente. A história começa bem, e o fim é delicioso. O meio é o mais problemático – onde os mais atentos percebem que o corpo Gala Drop (dado a tudo e a todos por ideal) quase se desconjuga com a necessidade de substituir o Tiago Miranda.

Não há dúvida do sincretismo, do desejo de expansão do kraut, do dub, do funk comichoso, ou do rock psicadélico que se masturba com o progressivo; o techno de Juan Atkins (Cybertron ou Model 500) mistura-se na equação por intermédio de Jerald James, que ocasionalmente intervém num desfasamento pop de difícil digestão. Fica a dúvida se Jerry The Cat (independentemente do currículo com os Funkadelic ou Parliament, Theo Parrish ou Moodymann) terá sido ou não uma contratação singular; o futuro dirá se passará a ser (ou não) um peso gravitacional que lentamente distorcerá a música do colectivo. Basta ouvir o preocupante “Let’s Go” para perceber como a coisa pop procura desesperadamente no fim valor anímico num surrealismo techno descompassado da musicalidade do projecto, que por ali se retrai em vez de se expandir. Ou descobrir que ambiguidade de "All Things" dá tudo excepto um propósito que justifique viver fora de um EP de curiosidades.

Os Gala Drop têm uma personalidade expansionista, essencialmente quando se entregam ao instrumental, se dão à composição livre de encargos, à pura especulação; quando se dão ao prazer de não acomodar (à força) os outros. “You and I” (único momento em que Jerald James se presta a contribuir para a grandeza) e “Samba da Maconha" são genuínas pérolas num alinhamento irregular. A II falta alguma da virtude onírica que fez do disco de estreia um dos melhores discos portugueses (aventurosos) dos últimos anos. Não será motivo para dizer que pairam nuvens negras naqueles montes retratados na capa, mas o nevoeiro...
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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