Não diríamos, à primeira audição, que estamos perante um duo oriundo de Glasgow. Para começar, a única coisa que os liga à Escócia, ou a compatriotas escoceses, é a propensão para esconder melodias por debaixo de uma camada deliciosa de ruído, como os Jesus & Mary Chain tão bem faziam. Depois, a sonoridade deste seu disco de estreia nada tem a ver com os céus húmidos e carregados com que se caracterizam as terras altas; Honeyblood é um disco que poderia muito bem ter sido feito na Califórnia, pop/rock que pensa o sol tal ao jeito de malta como Best Coast. O que só prova que num mundo globalizado a geografia já não tem peso algum.

Até o próprio sotaque com que cantam nada tem de britânico; o grito rock feminino de Honeyblood, que não sabe se se quer enquadrar na pop ou no movimento riot grrrl (bem, pode muito bem fazer as duas coisas), traz à cabeça inúmeras bandas da Sub Pop ou derivados recentes. Mas lá está: quando se fazem canções tão orelhudas como "Fall Forever", logo a abrir, um refrão que dura durante horas (I never knew, your eyes were so blue...), perceber de onde elas vêm é supérfluo. Há cantigas e isso chega-nos perfeitamente.

Honeyblood não é um mau disco de estreia, nem cai no território cliché da banda-indie-que-junta-melodias-e-guitarradas, muito menos se detém demasiado tempo a pensar no surf ou no psicadelismo. Pop/rock jeitoso que calha bem em qualquer altura, seja a nonchalance de "(I'd Rather Be) Anywhere But Here", os trajeitos Vaselines em "Bud" (também isto uma ténue ligação à Escócia) ou a fantástica "Biro". E nem precisamos de nos focar apenas nas seis cordas: a terminar, a balada ao piano de "Braidburn Valley" é um momento delicioso, um recuperar de energias. Listen to the girls as they take on half the world, ora pois.