DISCOS
Run the Jewels
Run the Jewels 2
· 14 Nov 2014 · 11:33 ·
Run the Jewels
Run the Jewels 2
2014
Mass Appeal Records


Sítios oficiais:
- Run the Jewels
Run the Jewels
Run the Jewels 2
2014
Mass Appeal Records


Sítios oficiais:
- Run the Jewels
Um diamante bruto.
É difícil ouvir Run the Jewels 2 e não ficar com a sensação de que estamos perante um dos grandes álbuns de hip-hop do ano. E se é verdade que, num 2014 em que o género está manifestamente em baixo de forma, isto não parece uma tarefa muito complicada, também o é que o registo, segundo nascido da sagrada união entre El-P e Killer Mike, destacar-se-ia mesmo no meio de uma colheita áurea de discos de hip-hop. O que nos leva a levantar a questão: o que é que faz deste Run the Jewels 2 um LP tão especial?

Talvez seja a produção, assinada sobretudo por El-P, e que eleva para um novo patamar o trabalho ensaiado no primeiro homónimo de 2013: conjugar, de uma forma perfeita, uma sonoridade desafiante o suficiente para condizer com os galões alternativos do rapper e produtor norte-americano com uma acessibilidade nos beats viciante que chegue para pôr a abanar os rabos e as ancas mais empedernidas. O sampling idiossincrático (ouvem-se, aqui e ali, relógios-de-cuco e golfinhos) e os detalhes de guitarra conseguem atribuir ao registo várias camadas, que se vão revelando a cada audição, mas é com os baixos sintetizados, as batidas pré-programadas e os graves pulsantes que ficamos vidrados neste RtJ2.

Ou talvez sejam as letras, que nos expõem a uma violência caricaturalmente exagerada mas que, ainda assim, nos atira ao tapete de uma forma sistemática, verso após verso. Das aventuras sexuais da dupla às referências a wrestling, passando pelo comentário sociopolítico e pelas ameaças a rodos que por aqui se ouvem, tudo cabe neste Run the Jewels 2, disco que tanto eleva o nível de braggadocious para um patamar elevado o suficiente para envergonhar até o rapper mais convencido desta praça como nos faz ver, através das referências geeky que vão sendo atiradas aqui e ali, que estamos perante dois "rapazes" tão entusiastas da cultura pop quanto nós.

Ou talvez seja mesmo o contexto em que este Run the Jewels 2 foi lançado, uma América pós-Ferguson que ainda convulsiona com as questões raciais e onde rareiam os discos que ofereçam, de uma forma célere, uma resposta tão enraivecida e certeira quanto aquela que ouvimos em “Close Your Eyes (And Count to Fuck)”: "Where my thuggers and my cripples and my blooders and my brothers?/ When you niggas gon' unite and kill the police, mothafuckas?". Seja o que for, a verdade é que não é de estranhar que se oiçam brindes em “Angel Duster”, canção que encerra o álbum; afinal de contas, Killer Mike e El-P têm todas as razões para brindarem, depois de terem lançado um disco que será, certamente, um marco do hip-hop desta década.
João Morais
joao.mvds.morais@outlook.com
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