DISCOS
Grumbling Fur
Preternaturals
· 01 Out 2014 · 16:59 ·
Grumbling Fur
Preternaturals
2014
The Quietus Phonographic Corporation


Sítios oficiais:
- The Quietus Phonographic Corporation
Grumbling Fur
Preternaturals
2014
The Quietus Phonographic Corporation


Sítios oficiais:
- The Quietus Phonographic Corporation
Encontro feliz.
Percebe-se porque é que Alexander Tucker e Daniel O’Sullivan dizem que os seus discos são sempre reflexo do lugar onde é gravado em primeiro lugar, e só depois um reflexo do seu interior pessoal. Depois do selvagem e florestal Furrier e de um exercício chamado Glynnaestra, chega o poppy e directo Preternaturals (ainda que a linha conceptual do disco gire em torno de fenómenos sobrenaturais e espíritos) para confirmar a tal premissa anunciada pela dupla.

E tudo faz sentido. Se Furrier soava a um disco ligado à terra, com uma dimensão quase telúrica, Preternaturals parece um disco urbano, em que a procura foi pacificamente substituída pelo encontro. Basta escutar as vozes entrelaçadas de “All The Rays”, a languidez de “Lightinsisters” ou a delicadeza de “Secrets of The Earth” para perceber que este disco só seria possível com esse encontro mútuo não apenas físico, mas também espiritual de Tucker e O’Sullivan. Paradoxalmente, este é também o disco mais próximo da sonoridade que O’Sullivan tem desenvolvido em alguns dos seus projectos paralelos - particularmente Mothlite, Ulver e Miracle: é a ele que pertencem os teclados mais coloridos, as melodias ululantes e o pézinho de dança tão premente.E embora estejamos de bem com isso – agradece-se a cascata de cor em tempos tão cinzentos -, também sentimos a falta do risco de Tucker, capaz de aliar liberdade selvagem à calma bucólica com a ajuda das suas seis cordas.

Podemos argumentar que este está longe de ser um disco essencial na carreira a solo e/ou conjunta de Tucker e O’Sullivan – deste lado escolhemos Furrier para cumprir esse papel -. Mas também podemos argumentar que, como um bom disco pop (ainda que com as suas idiossincracias experimentais, como se nota em “Pluriforms”, canção súmula do disco e certamente da futura direcção dos Grumbling Fur), Preternaturals vale pelos minutos coloridos, em tudo semelhante aos poucos minutos que o sol leva para se levantar e acordar a cidade aos seus pés. E esses já ninguém nos pode tirar.
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com

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