DISCOS
Jack White
Lazaretto
· 22 Set 2014 · 10:43 ·
Jack White
Lazaretto
2014
XL Recordings


Sítios oficiais:
- Jack White
- XL Recordings
Jack White
Lazaretto
2014
XL Recordings


Sítios oficiais:
- Jack White
- XL Recordings
O filho pródigo a casa expande.
Terá havido uma altura na vida de Jack White, em que lhe bastava ligar uma guitarra a amplificadores, esperar que a sua ex-mulher Meg montasse a bateria, e podia começar o espectáculo. Hoje, todavia, Jack é uma estrela rock. Da forma que alguém que toque o que ele toca pode ser estrela rock na era-Avicii/Maroon 5, isto é. Mas o seu comportamento de estrela rock não é o de andar a atirar Rolls-Royces para dentro de piscinas, nem de exibir notas verdinhas junto a mansões nos vídeos. Antes, os seus “excessos” reflectem-se na quantidade de instrumentação, músicos, e meios ao seu dispor para gravar discos. E Lazaretto vai mais longe nesse aspecto que qualquer um dos seus álbuns anteriores.

Jack pode ser considerado um guitar hero, mas Lazaretto não é um álbum com predomínio da sua guitarra eléctrica. Ouvimo-la as vezes, sim. Com o seu som característico de riffs que estao prestes a dissolver-se em ruído branco, e só com muito esforço se conseguem arrancar daí. Mas a guitarra acústica, e o piano, também são parte fulcral de Lazaretto, ajudando Jack a demonstrar que a sua paixão estará actualmente mais nas canções e melodias.

O que não se perdeu é a energia que quem já o viu ao vivo conhece bem. Uma energia que dá molas nos pés ou no rabo, conforme esteja de pé com a guitarra, ou sentado ao piano. E nisso, a variedade e riqueza dos arranjos vem muito a calhar. Podia, talvez, ter-se ficado pelo violino e pelo pedal steel, e jogado um pouco com o seu amor pela country. Em vez disso, preferiu adicionar sintetizadores Moog e Korg, harpas, coros, mandolins, clavinetes, contrabaixos. Também as letras parecem mais pessoais do que noutras ocasiões, embora seja muito provável que ele o vá negar nas entrevistas (Ah, postura enigmática, a quanto obrigas!) Muitas parecem referir-se a amores que correram mal, e a pós-separações, tornando um bocado difícil não as relacionar com o seu divórcio de Karen Elson. As melodias é que não falham, tornando as canções animadas, cheias de swing, transportadas por uma voz inconfundível e vibrante.

Não apostaria muito dinheiro na possibilidade de Jack White criar outro riff-hino-futebolístico. O que Lazaretto parece, paradoxalmente, exibir, é um homem infeliz ao amor, mas feliz na música. Talvez tenha atingido o seu zénite comercial. É difícil furar os tectos de vidro de 2014, quando se faz a música que Jack faz. É pena, pois se há candidato a ícone aparecido no século XXI, Jack White é o maior candidato que o rock nos trouxe. E Lazaretto é um concentrado apuradíssimo de alguns dos sons que os Estados Unidos ofereceram aos seus filhos pródigos.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
RELACIONADO / Jack White