DISCOS
FKA Twigs
LP1
· 12 Set 2014 · 15:20 ·
FKA Twigs
LP1
2014
Young Turks


Sítios oficiais:
- FKA Twigs
- Young Turks
FKA Twigs
LP1
2014
Young Turks


Sítios oficiais:
- FKA Twigs
- Young Turks
Sussurros que arrepiam.
Space – The Final Frontier. These are the voyages of the singer Formerly Known As Twigs. Its continuining mission: To explore strange new noises. To seek out new songs and new textures. To boldly sound like no one has sounded before!

O trip-hop morreu definitivamente com dos Portishead. As “novas tendências nunca chegaram a ter um coração para que possamos dizer que viveram. E os Massive Attack, pelo menos desde o sofrível “Heliocentric”, não se sentem lá muito bem. Mas em Inglaterra continua a haver quem queira que a canção, e o que a rodeia, de saltos em frente. E o que já era certeza nos dois EPs anteriores, torna-se motivo de rejúbilo em ”LP1. Tahliah Barnett, a senhora de 26 anos que responde por FKA Twigs, fez um disco que concorre ao título de Mais Importante Desde “Untrue”, de Burial. Sim, até mais que “Merriweather Post Pavillion”. Claro, como sempre tudo dependerá de como o que Twigs construiu seja utilizado. Afinal, de cópias estamos, ou devíamos estar, todos fartos.

A razão porque arrisco em dizer o que disse, é que LP1 dá aquela sensação que reconhecemos de Dummy, Swordfishtrombones ou Monoliths & Dimensions. A que aqui existe algo que aparece simultaneamente sólido como granito, e moldável como barro. Algo feito de milhões de ideias, das quais mais milhões podem ter origem. E tudo isso enquanto não se esquece de compor 10 excelentes canções, de sensualidade apuradíssima.

Twigs tem uma voz que recorre muitas vezes ao falsete. Mas o que mais a distingue é o intimismo que consegue transmitir, sobretudo ao utilizar magistralmente o espaço e o silencio entre sons e batidas. LP1 é um disco extremamente táctil. Quer estes beats que descrevem órbitas em volta da voz de Twigs, sem nunca fazerem círculos perfeitos, quer os sons que nunca sabemos de que direção vem, que origem tiveram, nem para que direcção vão, parecem mais reais do que o quaisquer óculos 3D poderiam proporcionar. E a textura, o fraseado, a já referida sensualidade tremenda de Twigs compõem o bouquet. A sua simbiose com produtores como Arca, Sampha ou Emile Haynie está ao nível de uma sequoia gigante e frondosa num solo rico em nutrientes. É a voz que poderia ter existido em RIP ou Ghettoville de Actress, caso este quisesse tornar o seu sangue frio em escaldante.

As 10 canções (ou 9 e um intro) de LP1 sao, todas elas, merecedoras de destaque. “Two Weeks” é libido pura, tão próxima que causa calafrios. “Hours” (”I could kiss you for…") parece existir dentro de uma esfera, que, por mais que rode, a cara e a voz de Twigs olham-nos sempre nos olhos. “Numbers” são eras que se cruzam, voz escaldante e replicas de orquestração em caverna de cristal. “Give Up” é luz que nos guia, olhos vidrados, num planeta que ainda não adivinhámos se é inóspito ou não. Não podemos dizer que alguma coisa está fora do lugar ou arrumada. Esta casa ainda não vimos. Estas imagens ainda não conhecemos. Esta decoração é feita com mobília e objectos belíssimos, que ainda não vimos em nenhuma loja. Tirando a cara, manipulada e intrigante, de Twigs na capa, todo o resto do disco, CD incluído, é azul. Estará aqui uma estética completa, como acontecia com os White Stripes? O tempo o dirá. Está aqui um disco que faz 2014 saber a 2014? Sem qualquer dúvida!
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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