DISCOS
Steve Cobby
Saudade
· 30 Jun 2014 · 19:29 ·
Steve Cobby
Saudade
2014
Déclassé Recordings


Sítios oficiais:
- Steve Cobby
Steve Cobby
Saudade
2014
Déclassé Recordings


Sítios oficiais:
- Steve Cobby
Porque este gajo não me irrita, ao contrário dos Thivery Corporation.
Dois discos de dinossauros do lounge-music (e como odeio a expressão, e mesmo assim a uso!) dos anos 90 chamados Saudade. Coincidência. Mas de que se trata essa saudade, tanto dos Thivery Corporation, como de Steve – cara-metade dos míticos Fila Brasilia – Cobby? Enquanto os Fila chegaram à conclusão há 10 anos que a reforma seria o plano ideal, sair de cena antes que fossem derrotados no seu próprio jogo, os Thivery Corporation ainda andam por aí, e como diria Paulo Cecilo na recente crítica ao disco Saudade no BS: “Não existe ninguém que os ouça e declare que está perante a melhor banda do mundo”, acrescentando mais tarde: “existe o desinteresse, existe a apatia, existem descrições da sonoridade da banda com recurso a um simples "meh", mas nunca um ódio profundo.”

A minha questão é simples, e repito: porque falamos de saudade quando estamos perante um facto musical que vive da reciclagem? Ambos os discos invocam o mesmo sentimento. E ambos estão parados no tempo? Absolutamente. Este disco de Steve Cobby (anteriormente conhecido como Solid Doctor) tem a exacta pertinência do disco dos Thivery Corporation. Mas há uma excepção. Steve Cobby está a jogar para se divertir, sabendo que é inconsequente, enquanto Rob Garza e Eric Hilton andam por aí a fazer de conta que são pertinentes. A saudade de Steve Cobby é genuína porque sabe que o seu tempo já lá vai. O disco que produziu, na desportiva, é um exercício lúdico para satisfação pessoal. A saudade dos Thivery Corporation limita-se a bossa-nova emoldurada como uma memória infantil; abjecta, estéril; no fundo, para cumprir calendário.

A saudade de Steve Cobby entra no escalão de gajos-reformados-que-produzem-por-gosto-nas-horas-vagas. Por comparação, o disco do ano passado dos Ultramarine (“This Last Time Last Year”), a dupla propôs uma colecção coerente, digna do nome do grupo; mas era um disco singular? Não. Era nostálgico. Ponto. Invocou descontraidamente os bons dias. Saudade de Steve Cobby faz o mesmo. É uma súmula do que fez os Fila Brasillia tão únicos. É um passeio honesto pelo parque das memórias. E Coddy fá-lo sem irritar os neurónios. Temos hip-hop descompassado, apaixonado pelo jazz; breakbeat curioso com os mecanismos da bass culture; funk a divertir-se com orquestrações virtuais; house e electro insurrectos; e, à falta de melhor eloquência, possuído por um discreto perfume dub, que jura a pés juntos que Kingston não existe no mapa.

É um disco giro; de um saudosista para saudosistas. Bem mais suportável que a oportunista saudade dos dois gajos de Washington. Se é para fazer mais do mesmo, ao menos sejam competentes. Agradecimentos sinceros a Coddy por não nos fazer perder tempo ao longo de uma hora. Kudos, mate!
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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