Faz três anos que uma moça de nome Rose Keeler-Schäffeler decidiu sacar uma versão pirateada do Garageband (imaginamos nós) e pôr a circular no mundo as canções que lhe iam passando pela cabeça; mal tocadas, mal gravadas, deliciosas. A baixa fidelidade enquanto criação e não modo de produção; um projecto no meio de milhares de milhares de projectos que pululam por esse Tumblr fora e que chega agora, pela primeira vez, ao formato vinílico. Dezoito canções - não eram precisas mais - de todos os estilos possíveis e imagináveis.

Sim, estilos: "Go" parece uma malha saída dos bons velhos tempos twee dos Talulah Gosh e quejandos, ao passo que "You Think You're So Rock & Roll" aposta mais no lado noisey que sempre existe quando se grava alguma merda num canto escuro do apartamento demasiado caro para aquilo que é e as bonitas "In My Head" e "Riot Grrl" soam a Pega Monstro cantado em inglês o que, como deverão calcular, é um enorme elogio. Ou "Don't Look At Me", a lembrar todas as bandas de miúdas surgidas nos últimos cinco anos e a deixar saudades das Vivian Girls. Ou "Overtime", pop electrónica ao estilo La Düsseldorf/fechos de emissão televisiva em 1980.

Keel Her é uma mistura de tudo e mais alguma coisa, mas sempre com o pensamento no rock n' roll. Afinal, alguém que faz um trocadilho tão fixe com o próprio apelido só pode ser do rock. "(I Hate It) When You Look At Me" destaca-se naturalmente ao longo dos quarenta e poucos minutos que o disco dura, não só por ser a canção mais longa (cinco minutos? Quase uma blasfémia nestas coisas do lo-fi) como por ser a mais melódica; o refrão a arrastar-se na voz a dissolver-se e um final quase em modo Enya - o que também é um elogio. Se isto não chega para um belo disco, ainda existe "I'd Be Your Slave", com R. Stevie Moore a remisturá-la. E se ele aprova quem somos nós para discordar?