DISCOS
Sonic Youth
Goo
· 19 Jan 2004 · 08:00 ·
Sonic Youth
Goo
1990
Geffen


Sítios oficiais:
- Sonic Youth
- Geffen
Sonic Youth
Goo
1990
Geffen


Sítios oficiais:
- Sonic Youth
- Geffen
Goo foi o primeiro disco da banda de Thurston Moore e Kim Gordon a ser editado por uma multinacional. Depois do sucesso de Daydream Nation e do hino "Teenage Riot", assinar pela Geffen foi um passo natural. Como é costume no mundo independente, especularam-se concessões estilísticas, enquanto se gritava "sellout!". Nada de mais errado. Goo não é habitualmente colocado ao lado de clássicos como Evol, Sister ou Daydream Nation (a trilogia indie rock perfeita). Se em Daydream Nation os Sonic Youth conciliaram-se com o formato canção, em Goo colhem-se mais saborosos frutos desta nova postura.

"Dirty Boots" prossegue o caminho mais cantarolável de "Teenage Riot" e é um viciante tema. O mesmo riff hipnótico de guitarra persegue-nos por toda a canção, interrompido apenas por um falso refrão com Moore em espasmos stoogeanos e as guitarras distorcidas a percorrerem diferentes caminhos até ao final, onde surge o mesmo riff que abria a canção. "Tunic (Song for Karen)" é uma corrida de seis minutos e meio com Kim Gordon na frente, as guitarras saturadas de distorção em fila e apontamentos da vida de uma rapariga à procura da beleza (another green salad, another ice tea, there's a tunic in the closet waiting just for me). A canção é uma elegia a Karen Carperten dos The Carpenters. "Kool Thing" devia servir de modelo nos manuais de como construir uma canção rock: um riff perfeito, Kim na sua habitual provocação hormonal (kool thing let me play with your radio move me turn me on baby oh i'll be your slave, give you a shave), deambulações em feedback e tensões contidas pelo meio. Chuck D, dos Public Enemy, dá uma ajuda, numa inédita colaboração entre o rock alternativo e o hip-hop. A segunda metade do disco é menos acessível. "Disappearer" é um tema mais calmo, feito de guitarras intrincadas, a culminar num crescendo imparável. Os mesmos jogos de guitarras e crescendos preenchem "Cinderella's Big Score", mas desta feita com doses acrescidas de efeitos de guitarra. "Mildred Pierce" abre com a trademark do baixo distorcido de Kim e três acordes de guitarra que aumentam de intensidade até estilhaçarem em cacofonia total e berros incompreensíveis. O álbum termina com "Titanium Expose", dividida entre Thurston e Kim e com uma corrida final perfeita, punk rock bastardo a degenerar no minuto e meio de ruído que encerra o disco.

Goo tem um bom conjunto de grandes canções, mas destaquemos "Mote", a única música do disco cantada por Lee Ranaldo e na qual os Sonic Youth atingem uma espécie de clímax na sua fusão entre harmonia e ruído. O tema é construído sob uma estrutura pop comum, mas uma guitarra ocupa-se de contaminar a melodia com delírios noisy. A voz de Ranaldo no refrão arrepia-nos, enquanto Steve Shelley nos espanca violentamente na bateria. O resultado é quase um manifesto teórico da canção a la Sonic Youth, ainda hoje emulada por milhares de bandas indie, mas sem que em algum dos casos se atinja a genialidade da banda americana.
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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