DISCOS
David Grubbs / Avey Tare
Split 12â€
· 15 Jan 2004 · 08:00 ·
David Grubbs / Avey Tare
Split 12â€
2003
Fat Cat


Sítios oficiais:
- Fat Cat
David Grubbs / Avey Tare
Split 12â€
2003
Fat Cat


Sítios oficiais:
- Fat Cat
É o décimo sexto 12" de uma série de splits que têm vindo a ser lançados pela editora Fat Cat, com alguma regularidade, desde o ano 2000. É ainda o encontro de David Grubbs e David Portner (Avey Tare) num mesmo LP, cada um no seu lado. A Grubbs coube o lado A, a Avey Tare o lado B.

Para quem não conhece, David Grubbs integrou o projecto Squirrel Bait (no qual pontuavam elementos dos extintos Slint) e os Gastr del Sol (com Jim O’Rouke). Desde meados da década passada, vem mantendo uma carreira a solo, tudo menos homogénea. Ainda do seu currículo constam colaborações com Will Oldham, Matmos, Tony Conrad, entre outros. David Portner, por sua vez, além do projecto Avey Tare, tem deixado o seu cunho nas edições do projecto Animal Collective.

Gravados entre o Inverno de 2001 e 2002, os temas que marcam a estreia de David Portner a solo – Spirit they’re gone / Spirit they’ve vanished (2000), a primeira edição de Avey Tare, contou com a participação de Panda Bear (também Animal Collective) – constituem, indubitavelmente, a melhor parte do disco. O primeiro tema, “Crumbling Landâ€, anuncia-se calmo, por via de um piano subtil ladeado de ruídos electrónicos tranquilizantes. De súbito e inesperadamente, irrompem, de todos os lados, vozes, e embalados somos por um canto xâmanico que nos faz participar do ritual, por pouco tempo, no entanto. Os minutos seguintes – os mesmos que dura a audição de “Misused Barber†- conduzem-nos ao caos, num ambiente industrial, pesado e denso, entre vozes distorcidas que soltam palavras imperceptíveis. Música avariada, chamar-lhe-iam alguns. O melhor chega-nos nos treze minutos de “Abyss Songâ€, o tema que encerra o lado B deste split. Concebido com o propósito de servir de banda sonora a uma exposição que a sua irmã iria levar a cabo na Parsons School of Design, durante Novembro de 2002, “Abyss Song†resultou num belo e atmosférico ensaio de sons, que nos dirige a um imaginário pueril – há vozes de crianças, aliás - mas simultaneamente melancólico. Se, ao entornar alguma electrónica sonhadora e ingénua de uns Múm num tubo de ensaio sobre um tema a piano interpretado por Angelo Badalamenti, alguém se questionasse a respeito do produto final, “Abyss Song†não seria certamente uma resposta descabida.

Já os dois novos temas – ambos instrumentais - preparados por David Grubbs para o lado A deste split, ficam aquém da fasquia de interesse que Portner nos oferece no lado contrário do vinil. A primeira peça, ao piano, “The world brushed asideâ€, nos dez minutos em que se desdobra, apresenta-nos alguns momentos fortes, entre outros menos entusiasmantes. A repetição compulsiva de acordes acaba por suscitar o desejo de reduzir o tema a metade da sua duração. Por sua vez, mais interessante mas pouco desenvolvida, ficou “Theme from ‘Horizontal Technicolour’â€, peça composta com o intuito de acompanhar musicalmente um filme de Angela Bulloch. Gravada num sintetizador korg e recorrendo à distorção e a um pedal wah-wah, “Theme from ‘Horizontal Technicolour’†é uma peça inspirada na cena Stargate no filme 2001: A Space Odissey, de Stanley Kubrick. Música de outro mundo, atmosfera única. Pena é que acabe no preciso momento em que parecia querer explodir.
Tiago Carvalho
tcarvalho@esec.pt

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