DISCOS
Paavoharju
Joko Sinä Tulet Tänne Alas Tai Minä Nousen Sinn
· 03 Dez 2013 · 22:32 ·
Paavoharju
Joko Sinä Tulet Tänne Alas Tai Minä Nousen Sinn
2013
Svart Records


Sítios oficiais:
- Svart Records
Paavoharju
Joko Sinä Tulet Tänne Alas Tai Minä Nousen Sinn
2013
Svart Records


Sítios oficiais:
- Svart Records
Apreciar um disco que não se entende deve ser a obra-maior do multiculturalismo.
Passaram-se oito anos desde que este grupo de cristãos ascetas (pergunta: não será a música um prazer terreno?) se deram a conhecer a quem quer que estivesse atento com o fabuloso Yhä Hämärää, objecto auditivo não identificado que tanto ia buscar à folk como à electrónica mais oblíqua (exemplo: os sonhos infantis dos Boards of Canada) como às texturas sonoras dos Cocteau Twins, criando uma amálgama de som tão estranha quão calorosa (dúvida: na Finlândia não faz um frio desgraçado?). Seguiu-se Laulu Laakson Kukista, ainda nos domínios dos títulos impronunciáveis para nativos das linguagens românicas, em que expandiram a sua sonoridade para algo mais orgânico por contraste com o frio da maquinaria, aproximando-se dos M83 numa busca por aquilo que é impossível de se definir - perguntem a cem crianças o que é Deus e receberão cem respostas diferentes.

Depois disso o silêncio, apenas quebrado em 2011 com Ikkunat Näkevät, EP de faixas antigas e algumas novidades, e agora este regresso com Joko Sinä Tulet Tänne Alas Tai Minä Nousen Sinne, cuja tradução na realidade não interessa para nada, terceiro disco dos Paavoharju em que somos confrontados com uma estranheza ainda maior: desta feita, e novidade na sua música, a voz e as letras tomam um papel central, relegando a atmosfera e o instrumental para segundo lugar. Para o efeito colaboraram com o compatriota e rapper Paperi T, sendo que pela importância que os versos deste tomam na generalidade da música que por aqui se ouve estaríamos tentados a dizer que este não é um disco dos Paavoharju per se mas um encontro fortuito entre duas espécies diferentes de músicos.

Até porque o objecto final não está muito longe de uma definição abstracta de hip-hop - existe um beat arrastando consigo uma carga de ruído, e alguém que o acompanha com as palavras, sob uma camada espessa de melodias quase paranormais. E no entanto são essas melodias que salvam o disco e não a experiência com outros géneros, são essas paisagens espectrais que nos prendem a atenção durante a maioria destes trinta e cinco minutos de Joko Sinä..., que nos arrepiam e excitam. Em "Metsän Hämärä" o fantasma que é a voz vai dando lugar ao ruído melódico da electrónica, enquanto uma sucessão de ritmos vagueiam pelo espaço da canção, como se Aphex Twin tivesse sido regurgitado pelos quatro estômagos de uma vaca - pode não ser uma imagem bonita mas é a que mais se coaduna. Contudo, o momento mais alto está reservado para "Tattarisuo 1931", o exemplo de melhor deste cruzamento entre o apocalipse sonhador dos Paavoharju e a realidade urbana do rap. Regresso difícil de uma banda obscura, mas um regresso que se aplaude.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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